• Ao fazer biopsias incisionais, evitar as áreas necróticas ou muito inflamadas. A necrose destrói a arquitetura tissular; e a

reação inflamatória, quando grave, pode obliterar as alterações neoplásicas ou induzir sinais de displasia nas células do

tecido. Ambas podem dificultar, ou mesmo impossibilitar, a avaliação histopatológica

• Certificar­se de colher o tecido correto. Por exemplo, ocasionalmente são enviadas glândulas salivares confundidas com

linfonodos em casos de suspeita de linfoma. Para evitar esse tipo de situação, sugere­se que o clínico ou cirurgião

responsável pelo caso participe ou supervisione a colheita da amostra. Além disso, exames de imagem, como radiografia,

ultrassonografia, rinoscopia e endoscopia, são de grande valia para a orientação na obtenção de amostras de qualidade

• Se não forem utilizados, os frascos fornecidos pelo laboratório e já etiquetados, colocar a identificação da amostra no

próprio frasco, e não na tampa, para evitar confusão ou troca de materiais. Uma forma bastante segura é colocar dentro do

frasco, junto com o material, uma etiqueta de papel escrita a lápis com a identifi­cação deste

• Evitar usar frascos de boca estreita. O material que, quando fresco, pode ser espremido para ser introduzido no frasco

de boca estreita, após fixado, só poderá ser retirado quebrando­se o frasco.

Colheita das amostras

Começa­se com a terminologia: na grande maioria das vezes, o termo correto a utilizar é “colheita”, e não “coleta”.

Colheita subentende a remoção da porção de um todo, como uma fruta de uma árvore ou um fragmento de um organismo.

Coleta, por sua vez, indica colecionar, juntar em um mesmo recipiente, como a coleta das esmolas na igreja. Para entender

melhor essa diferença, veja­se a seguinte frase: “as amostras foram colhidas durante a cirurgia e, a seguir, coletadas em um

frasco com formalina a 10%”.

O exame de amostras colhidas do paciente vivo chama­se biopsia. Este exame pode ser feito por meio de duas técnicas:

ou apenas uma porção da neoplasia é removida (biopsia incisional) ou toda a neoplasia é removida (biopsia excisional).

Biopsia incisional

A biopsia incisional pode ser empregada em qualquer tumor, porém é mais frequentemente utilizada em tumores grandes

ou em outros casos em que a decisão por excisão radical, amputação do membro ou mesmo o futuro do paciente dependem

do diagnóstico histopatológico. Nela, remove­se apenas uma porção da neoplasia, geralmente um fragmento em forma de

cunha, como um gomo de uma laranja (Figura 7.4). Biopsias por punção “punch”, por agulhas de biopsia “thru­cut” e por

pinças de biopsia podem ser consideradas biopsias incisionais. Em qualquer das formas, para garantir representatividade da

amostra, deve­se evitar biopsiar as áreas inflamadas ou necróticas ou apenas o tecido sadio.

Biopsia excisional

A biopsia excisional é geralmente a técnica escolhida em qualquer situação em que se decida por biopsia. Tem a grande

vantagem de poder ser terapêutica, uma vez que toda a lesão é removida. Para que seja curativa, as margens de tecido sadio

a serem excisadas junto com o tumor devem ser amplas em todas as direções. Contudo, se houver suspeita de

mastocitoma, hemangiopericitoma, melanoma ou qualquer outra neoplasia invasiva, recomendam­se margens maiores para

garantir a remoção de todas as células neoplásicas eventualmente presentes na periferia da neoplasia. A possibilidade de a

neoplasia não ter sido removida integralmente, isto é, de células neoplásicas terem sido deixadas no paciente após a

ressecção do tumor, pode ser avaliada durante o exame histopatológico (ver “avaliação da completude da excisão”).

Figura 7.4 Biopsia incisional de uma tumoração entre os dígitos de um cão. Ao contrário da biopsia excisional, a incisional

remove apenas parte da lesão, que é enviada para exame histopatológico.

Processamento das amostras

Uma vez no laboratório, as amostras são submetidas a vários procedimentos sequenciais para a confecção das lâminas

histológicas que serão examinadas por microscopia óptica. O processamento histológico é demorado e complexo, como

descrito resumidamente a seguir.

Confecção das lâminas histológicas

Após exame macroscópico, as amostras são clivadas (recortadas) para determinar e orientar os planos de execução dos

cortes histológicos. A seguir, em um processo parcialmente automatizado e com frequente intervenção manual, os

fragmentos são desidratados e incluídos em parafina sólida. Nesse processo, toda a água presente no tecido é substituída

por parafina fundida, que, ao solidificar, dará ao tecido a firmeza necessária para que se façam os cortes histológicos. Os

blocos de parafina contendo o tecido a ser examinado são cortados em micrótomo, um aparelho de precisão capaz de cortar

o tecido em fatias com aproximadamente 5 micrômetros, a espessura necessária para exame dos cortes ao microscópio. Os

cortes obtidos são estendidos e fixados em lâminas histológicas de vidro, e a parafina que eles contêm é removida e

substituída por água para permitir a coloração por corantes histológicos. Depois de corados, os cortes são desidratados,

saturados por solventes orgânicos, embebidos em resina ou verniz transparente e, finalmente, cobertos por uma lamínula de

vidro ou acrílico para proteção, e só então estarão prontos para exame por meio do microscópio.

Cortes de congelação

Evidentemente, em virtude dos muitos passos necessários, o processamento histológico é muito lento, fazendo com que o

resultado do exame demore entre 3 e 5 dias, o que o torna impraticável para a avaliação transoperatória de uma lesão

suspeita. A avaliação histológica transoperatória é o exame feito ainda durante o ato cirúrgico naqueles casos em que o

cirurgião deve decidir entre uma excisão somente da neoplasia e a adoção de um procedimento mais radical, como a

amputação do membro, por exemplo, ou para a avaliação da completude da remoção da neoplasia (margens cirúrgicas). O

exame histopatológico transoperatório geralmente é feito por meio de cortes de congelação, em que o tecido é congelado

para a realização dos cortes histológicos. Contudo, o aparelho necessário para realizar os cortes, erroneamente chamado de

“criostato”, é extremamente caro, e são raras as instituições veterinárias que dispõem de um. Qualquer que seja o resultado

obtido nos cortes de congelação, a neoplasia removida é submetida às técnicas histológicas de rotina para confirmação do

diagnóstico transoperatório.

Colorações histológicas

A coloração dos cortes é necessária para que os componentes tissulares e celulares tornem­se visíveis por meio da

microscopia óptica. A coloração de rotina, empregada na vasta maioria dos exames, é a técnica de hematoxilina e eosina

(H&E). Ocasionalmente, algum componente do tecido ou da célula neoplásica não é visível quando corado pela H&E, e

isso requer que sejam feitas colorações especiais para sua demonstração. Essas colorações, por agirem por meio de uma

reação química específica do componente sendo investigado com o corante utilizado, são chamadas colorações

histoquímicas. São exemplos clássicos o azul de toluidina para evidenciar os grânulos dos mastócitos nos mastocitomas, a

coloração de Fontana­Masson para evidenciar a presença de melanina nos melanomas indiferenciados, ou o PAS, para

evidenciar a membrana basal e os mucopolissacarídeos em certas neoplasias dos epitélios.

Imuno-histoquímica

Certas neoplasias anaplásicas ou indiferenciadas podem ser um desafio para o patologista. Nesses casos, para sua

identificação e diagnóstico lança­se mão de uma combinação de imunologia e histoquímica, a imuno­histoquímica. A

imuno­histoquímica é utilizada para identificar os chamados “marcadores tumorais”, geralmente proteínas filamentosas

componentes do citoesqueleto de algumas células normais e presentes em seus correspondentes neoplásicos. Esses

filamentos intermediários são identificados por anticorpos monoclonais ou policlonais e são evidenciados por técnicas

histoquímicas tradicionais, como o método avidina­biotina­peroxidase. Por exemplo, filamentos de citoqueratina são

encontrados nas células epiteliais e nos carcinomas; filamentos neurais, como a proteína S­100, estão presentes em

neoplasias neurais; vimentina é típica de tumores mesenquimais e tumores não epiteliais, como os melanomas e a desmina,

encontrada em tumores originados de células musculares.

1 Os tumores de células redondas muito frequentemente podem

ser muito difíceis de serem diferenciados entre si, a não ser que se utilizem técnicas histoquímicas ou imunohistoquímicas.

2

Felizmente mesmo os tecidos fixados em formalina frequentemente podem ser submetidos a essas colorações, não

havendo necessidade de as amostras serem colhidas em fixadores especializados.

1 A decisão da necessidade de usar ou não

uma coloração especial ou imuno­histoquímica é tomada pelo patologista, sem interferência do clínico ou cirurgião que

enviou a amostra.

Exame histopatológico

O primeiro objetivo do exame histopatológico de tumores é constatar se o crescimento é de fato neoplásico; o segundo

objetivo é identificar a neoplasia, evidentemente informando se maligna ou benigna. Contudo, uma vez completo, o exame

histológico informa muito mais que isso. Ao descrever minuciosamente as observações feitas durante o exame histológico,

o patologista fornece dados que podem auxiliar o clínico a definir a melhor abordagem terapêutica. A descrição feita pelo

patologista informa o clínico sobre o padrão de crescimento do tumor, se ele é compacto, tubular ou papiliforme, se é

infiltrativo ou tem limites definidos, ou se apresenta ou não uma cápsula que o delimita e o isola dos tecidos vizinhos. Nas

neoplasias malignas, o patologista pode ainda informar a graduação histopatológica, utilizando critérios como o índice

mitótico, o pleomorfismo celular, a invasividade das células tumorais, a presença de necrose tumoral e o seu potencial

metastático pela constatação de invasão vascular e a presença de êmbolos neoplásicos. Finalmente, caso especificamente

solicitado, o patologista pode informar, com relativo grau de confiança, se a neoplasia foi ou não excisada completamente

durante o procedimento cirúrgico por meio da avaliação das margens cirúrgicas.

Lesões que podem simular neoplasia

Muitas formas de proliferação celular podem ser confundidas com neoplasia. A principal diferença conceitual entre

qualquer forma de proliferação não neoplásica e a neoplásica é que, na primeira, uma vez cessado o estímulo que a

provocou, o crescimento cessa e a massa pode até mesmo regredir e desaparecer. Já a neoplasia, mesmo cessado o estímulo

causador, continua a crescer até, eventualmente, matar o paciente. Apesar dessa diferença fundamental, durante o exame

físico do paciente, no exame macroscópico da lesão, muitas dessas proliferações podem simular neoplasia. A avaliação

histopatológica é o único meio de diferenciá­las. Essas alterações estão descritas a seguir.

Hiperplasia

Hiperplasia, que pode ser focal ou difusa, é o aumento do número de células além do esperado em determinado órgão ou

tecido. Quando focal, forma nódulos (hiperplasia nodular), como no baço (Figura 7.5) e no pâncreas de cães idosos, e pode

ser confundida com neoplasia durante o exame macroscópico. Histologicamente, esses nódulos são muito semelhantes a

uma neoplasia benigna, não fosse pela ausência de cápsula delimitando a alteração. A Figura 7.6 é a fotomicrografia de um

nódulo hiperplásico no fígado. Nota­se que as células proliferadas comprimem e deformam o parênquima circunvizinho,

mas não existe uma cápsula separando­as deste. Comparando­a com a Figura 7.7, que representa um adenoma de células

Beta no pâncreas de cão, nota­se que neste existe uma tênue cápsula contornando a proliferação neoplásica.

Em algumas situações, mesmo a hiperplasia difusa, que teoricamente não forma nódulos, pode ser confundida com

neoplasia no exame físico, no exame ultrassonográfico ou na cirurgia exploratória. Essa confusão ocorre na hiperplasia

secundária da próstata e de glândulas endócrinas. Nestas últimas, a confusão é mais provável quando a glândula é única,

como a hipófise, mais ainda porque o processo pode não atingir a glândula uniformemente, dando­lhe superfície irregular.

Em glândulas pares ou múltiplas, como as paratireoides, ao atingir todas as glândulas ao mesmo tempo, a hiperplasia

difusa é menos provável de ser confundida com neoplasia, que apenas raramente atinge mais de uma glândula

simultaneamente.

Figura 7.5 Hiperplasia nodular. Lesões nodulares como as exibidas por este baço canino geralmente são confundidas com

neoplasia.

Regeneração

Muito frequentemente, a regeneração de uma lesão ocorre na forma nodular, como no fígado, quando submetido a agressão

crônica. Quando os nódulos são poucos, existe a possibilidade de serem confundidos com neoplasia (Figura 7.8).

Histologicamente a regeneração nodular é muito semelhante à hiperplasia nodular e da mesma maneira é diferenciada da

neoplasia.

A regeneração do tecido ósseo em uma fratura em reparação também pode simular neoplasia. Se o clínico for

confrontado com um caso de claudicação crônica com lesão de aspecto proliferativo na porção proximal da tíbia ou do

úmero de cães de raça grande e se o exame radiográfico também for inconcludente, ele deve suspeitar de neoplasia óssea e

proceder à biopsia da lesão. Se a lesão for, na realidade, o calo ósseo exuberante de uma fratura não imobilizada e não

consolidada, na avaliação histopatológica, o patologista também pode ter dificuldade para atestar a ausência de neoplasia.

Isso em virtude do grande número de fibroblastos e angioblastos em multiplicação e da presença de cartilagem e osso

imaturos e da inflamação grave sempre presente nas fraturas não imobilizadas (ver “displasia” e “inflamação”). Essa

situação é particularmente comum quando o cirurgião colhe amostras muito pequenas e do centro da lesão, que podem não

ser representativas.

Displasia

O termo displasia significa desenvolvimento inadequado. Embora muito empregado para descrever alterações

macroscópicas resultantes do desenvolvimento anormal de órgãos, pode ser utilizado também em nível celular. Neste caso,

indica a presença de células morfologicamente alteradas entre as células normais de um tecido. A displasia celular pode

resultar de infecções pelo vírus do papiloma, de irritação química crônica ou de inflamações crônicas graves

independentemente da causa. Das proliferações não neoplásicas, a displasia é a mais irregular e muitas vezes precede a

neoplasia. Ao encontrarem sinais de displasia em epitélios, muitos patologistas alertam os clínicos da possibilidade de

lesão pré­neoplásica. Histologicamente, a displasia caracteriza­se por hipercromasia, aumento da relação núcleo/citoplasma

e pela presença de mitoses mais abundantes e em locais onde não deveriam ser encontradas.

Inflamação

Durante o exame físico do paciente, qualquer reação inflamatória nodular pode ser confundida com neoplasia,

principalmente nas reações granulomatosas em torno de corpos estranhos, muito frequentes entre os dígitos, na face e na

cavidade oral. O exame histopatológico dessas lesões, além de evidenciar a natureza inflamatória da alteração,

frequentemente demonstra o agente causal, geralmente fungos ou corpos estranhos de lignina, quitina ou queratina (Figura

7.9).

Na vigência de inflamação grave, é possível que se tenha dificuldade de avaliar a presença de alterações neoplásicas

também no exame histopatológico. Isso porque a inflamação induz sinais de displasia no tecido envolvido e o processo

inflamatório pode mascarar as alterações neoplásicas.

3

Isso é particularmente evidente quando se avaliam biopsias de

lesões ulceradas ou necróticas do tubo digestivo, particularmente na cavidade oral. Nessas situações, é muito frequente o

patologista solicitar nova avaliação histopatológica após terapia anti­inflamatória e anti­infecciosa.

Figura 7.6 Hiperplasia nodular no fígado. É possível observar que o nódulo expandiu­se, comprimindo as células do tecido

periférico. Nota­se que, apesar da deformação imposta no parênquima hepático, não há formação de uma cápsula

(comparar com a Figura 7.7).

Figura 7.7 Adenoma endócrino. Pâncreas de cão. Nota­se a delicada cápsula (setas) de tecido conjuntivo fibroso

circundando a massa neoplásica (comparar com a Figura 7.6).

Figura 7.8 Cirrose macronodular. Fígado de cão. Na cirrose hepática, há regeneração nodular do parênquima hepático e,

nesta forma da lesão, pode haver confusão com neoplasia.

Figura 7.9 Granuloma leproide canino. Face posterior do pavilhão auricular. Certas reações inflamatórias, principalmente as

piogranulomatosas, como a representada aqui, geralmente são confundidas com neoplasia.

Coristomas

Coristoma é um foco de tecido normal e funcional presente em locais em que não deveria ser encontrado. É um defeito

congênito, embora muitas vezes seja diagnosticado só na vida adulta. O exemplo mais clássico é o coristoma cutâneo na

córnea de cães, que alguns denominam cisto dermoide. Este, por ser evidente e estar presente durante toda a vida do

paciente, é facilmente diagnosticado com precisão. Já outros coristomas, como o coristoma tireoidiano na mucosa oral, o

coristoma cutâneo na língua ou o coristoma adrenal no ovário (Figura 7.10), frequentemente são confundidos com

neoplasia durante o exame físico. Na avaliação histológica, o patologista facilmente constata a presença do tecido estranho

com características normais.

Figura 7.10 Coristoma adrenal. Ovário de égua. Coristomas são alterações congênitas caracterizadas pela presença de

tecido normal em localização ectópica. No caso exibido aqui, a ectopia (seta) é caracterizada por tecido da glândula

adrenal, com aspecto histológico absolutamente normal (inserto).

Existe a possibilidade de certas alterações não congênitas serem confundidas com coristomas. A presença de fragmentos

de tecido esplênico no mesentério e omento de cães, muitas vezes diagnosticados como coristomas esplênicos, é, na

realidade, implantação pós­traumática de tecido esplênico. O exame macroscópico acurado do baço pode evidenciar

cicatrizes que comprovam trauma prévio, ou a anamnese pode revelar uma história de golpe no abdome, atropelamento ou

agressão ocorridos no passado e que justificariam o trauma esplênico. Da mesma maneira, um nódulo no ovário ou no

testículo, que, ao ser cortado, revela uma cavidade cística preenchida por pelos ou por massa semilíquida de queratina não é

um coristoma cutâneo ou um cisto dermoide, mas um teratoma, uma neoplasia a ser discutida mais adiante.

Nomenclatura das neoplasias

A nomenclatura universalmente adotada para neoplasias é extremamente simples e foi feita de maneira tal que o nome que

se dá a elas informe, ao mesmo tempo e sem a necessidade de dados adicionais, seu tecido de origem e se ela é benigna ou

maligna. Para nomear uma neoplasia, é necessário conhecer a origem embrionária do tecido neoplásico – epitelial ou

mesenquimal – e, a seguir, definir se ela é benigna ou maligna. De posse dessas informações, usam­se os seguintes

critérios para nomeá­las:

• Epitelial benigna: se for de glândula ou apresentar padrão glandular, denomina­se adenoma. Se for de epitélio não

glandular e não apresentar padrão glandular, denomina­se epitelioma

• Epitelial maligna: se for de glândula ou apresentar padrão glandular, denomina­se adenocarcinoma. Se for de epitélio não

glandular e não apresentar padrão glandular, é o carcinoma. Muitos patologistas preferem não utilizar o termo

adenocarcinoma e classificam as neoplasias glandulares malignas utilizando o prefixo carcinoma seguido do nome da

glândula de origem da neoplasia (p. ex., carcinoma mamário, carcinoma sebáceo, carcinoma écrino, carcinoma da tireoide

etc.)

• Mesenquimal benigna: adiciona­se o sufixo “oma” ao nome do tecido, por exemplo, fibroma, condroma etc.

• Mesenquimal maligna: adiciona­se o sufixo “sarcoma” ao nome do tecido, por exemplo, fibrossarcoma, condrossarcoma

etc.

Os casos especiais são:

• Linfoma: apesar do sufixo “oma”, não existe uma “versão benigna” da neoplasia dos linfócitos. O comportamento

clínico do linfoma é bastante variado e seu prognóstico depende do estadiamento clínico e da classificação histológica que

se baseia principalmente no órgão ou nos órgãos acometidos, no tamanho das células neoplásicas (pequenas, médias e

grandes), na forma e na distribuição nucleolar, no padrão de proliferação celular (folicular ou difuso) e no índice mitótico

• Mastocitoma: assim como nos linfomas, não existe uma “versão benigna” da neoplasia dos mastócitos, e o seu

comportamento clínico é bastante variado. O prognóstico depende do estadiamento clínico e da classificação histológica

dessa neoplasia, que se baseia principalmente no órgão ou nos órgãos acometidos, na diferenciação das células

neoplásicas, nos sinais de atipia celular e no índice mitótico

• Melanoma: alguns autores usam a nomenclatura “melanoma benigno” e “melanoma maligno”. Os autores deste capítulo,

concordando com a nomenclatura das lesões melanocíticas de pessoas, preconizam o uso do termo “melanoma” para a

neoplasia maligna dos melanócitos. Paras as lesões melanocíticas benignas, preferem o uso dos termos melanocitomas e

nevos melanocíticos (intradérmicos, compostos e juncionais).

Caracterização morfológica do tecido de origem da neoplasia

No exame histopatológico, o primeiro passo é identificar o tecido de origem da neoplasia. Toda neoplasia apresenta os dois

componentes estruturais básicos de qualquer órgão: o estroma e o parênquima. O estroma, formado por tecido conjuntivo

fibroso e vascular, serve de suporte e nutrição para o parênquima, formado pelas células neoplásicas. A classificação e a

nomenclatura da neoplasia baseiam­se no parênquima. O estroma só é mencionado na identificação da neoplasia quando é

necessário para melhor caracterizá­la, como no adenocarcinoma cirroso, por exemplo. Baseando­se nas características

morfológicas do parênquima, as neoplasias são enquadradas em uma de três categorias: epiteliais, mesenquimais ou de

células redondas, segundo a origem embrionária de suas células (Figura 7.11).

Os tecidos orgânicos derivam de um dos três folhetos embrionários, ou de camadas germinativas: ectoderma,

mesoderma e endoderma. O ectoderma, o mais externo no embrião, dá origem à pele e aos seus anexos e ao tecido

nervoso. O endoderma dá origem ao aparelho digestório e a suas glândulas anexas e ao aparelho respiratório. O

mesoderma, localizado entre os dois primeiros, dá origem ao revestimento das cavidades corporais, ao aparelho

geniturinário e ao mesênquima, o tecido conjuntivo primitivo. O mesênquima, por sua vez, dá origem ao tecido conjuntivo,

incluindo­se aqui a derme, o sistema cardiovascular, os sistemas linfático e linforreticular, as células do sangue, o tecido

adiposo, os músculos lisos e estriados, os tendões, os ligamentos, os ossos e as cartilagens. Nota­se que, enquanto o tecido

conjuntivo origina­se apenas do mesênquima, os epitélios podem vir de qualquer uma das três camadas germinativas. As

células redondas, embora tenham origem mesenquimal, em oncologia são classificadas à parte por suas características

morfológicas diferentes das demais, como se verá adiante.

Existem algumas particularidades que devem ser discutidas brevemente para melhor entendimento. Para a nomenclatura

das neoplasias oriundas dos nervos, bainhas nervosas, meninges e glia, apesar de sua origem ectodérmica, elas são

consideradas mesenquimais por causa de suas características morfológicas e por, verdadeiramente, não constituírem

epitélio. É possível que uma célula neoplásica epitelial se transforme, por metaplasia, em tecido tipicamente mesenquimal,

como as células mioepiteliais no tumor misto da mama ou da parótida. É possível, ainda, que neoplasias originadas de

células totipotenciais, geralmente presentes no ovário ou no testículo, apresentem tecidos dos três folhetos embrionários,

como o teratoma. No tumor misto, além das células epiteliais, encontram­se tecidos mesenquimais, como cartilagem e

osso, mas que se originaram por metaplasia de apenas um folheto embrionário. Já no teratoma, podem ser encontrados pele

e anexos cutâneos, osso, cartilagem, tecido nervoso, muscular, conjuntivo fibroso, glandular etc., derivados de mais de um

folheto embrionário.

Neoplasias epiteliais

Os epitélios podem ser classificados em duas classes: membranas de revestimento e epitélio glandular. Indiferentemente da

origem, ao se tornarem neoplásicas, as células epiteliais perdem sua característica de crescimento ordenado e, por isso, não

mais se organizam em formas­padrão dos epitélios (simples, estratificado, pseudoestratificado etc.), a não ser

ocasionalmente. Ao exame histopatológico, as células neoplásicas epiteliais raramente aparecem isoladas no estroma

tecidual. São poliédricas, apresentam­se justapostas e adaptando­se umas às outras, formando grupos ou placas de tamanho

ou extensão variável. Frequentemente nas neoplasias benignas, e mais ocasionalmente nas neoplasias malignas originadas

de epitélio glandular, as células neoplásicas formam estruturas glandulares, como ductos, ácinos ou alvéolos, o que facilita

muito a identificação do tecido de origem (ver Figura 7.11 A). É possível observar também sinais de atividade secretora ou

a presença de produtos de secreção/excreção nos ductos, ácinos e alvéolos. Nas neoplasias benignas e nas malignas bem

diferenciadas que se originam nos epitélios de revestimento, como a epiderme e a mucosa oral, é possível observar

algumas junções celulares, os desmossomos, característicos dos acantócitos (Figura 7.12). A presença de membrana basal,

facilmente demonstrável nos epitélios normais, não é uma característica nos crescimentos neoplásicos epiteliais. Quando

uma neoplasia maligna se desenvolve em um epitélio, mas a membrana basal deste ainda está intacta, isto é, a neoplasia

limita­se à camada epitelial, tem­se o que se convencionou chamar de carcinoma in situ (Figura 7.13).

Figura 7.11 Exemplos dos três tipos celulares básicos de neoplasias. A. Epitelial: adenoma apócrino secretório; as células

têm características de epitélio, formando estruturas glandulares com sinais de secreção apócrina. B. Mesenquimal: fibroma

cutâneo; as células são alongadas e formam feixes entrecruzados. C. Células redondas: histiocitoma cutâneo; as células

são esferoides, mas, como é típico dos histiocitomas, os núcleos são pleomórficos e geralmente reniformes.

Neoplasias mesenquimais

As células neoplásicas mesenquimais geralmente são alongadas, fusiformes ou, mais raramente, esteliformes (ver Figura

7.11 B). Elas podem organizar­se em feixes entrecruzados e muito frequentemente produzem a matriz ou substância

intercelular típica da célula de origem, facilitando seu reconhecimento histológico. Assim o é nas neoplasias ósseas (Figura

7.14), cartilaginosas ou colagenosas. Contudo, nas neoplasias mesenquimais mais malignas, ou indiferenciadas, as células

neoplásicas exibem importante grau de anaplasia e podem produzir matrizes de diferentes naturezas, como no

fibrossarcoma, onde se pode encontrar cartilagem, osteoide ou lipídio.

Neoplasias de células redondas

As neoplasias de células redondas, como dito anteriormente, têm origem mesenquimal, mas são classificadas à parte em

razão de suas características morfológicas únicas, principalmente quando observadas no exame citológico. A principal

característica das neoplasias de células redondas é a forma esferoide de suas células (ver Figura 7.11 C), e, por não serem

coesas, na periferia da lesão, frequentemente apresentam­se isoladas. As seguintes neoplasias são consideradas de células

redondas: (1) linfoma, (2) mastocitoma, (3) histiocitoma, (4) plasmocitoma, (5) tumor venéreo transmissível (TVT) e,

ocasionalmente, (6) melanoma. Os mastócitos, linfócitos e plasmócitos neoplásicos têm as mesmas origens de seus

correspondentes sanguíneos. O histiocitoma (ver Figura 7.11 C) origina­se das células de Langerhans da epiderme e dos

folículos pilosos, e o melanoma origina­se dos melanócitos. Pesquisas recentes apontam que o TVT deve ter surgido por

mutação genética há aproximadamente 11.000 anos em uma população geneticamente isolada de cães primitivos,

aparentados com lobos.

4 Dos tumores de células redondas, o TVT é o que mais tem características de neoplasia epitelial,

com as células organizadas em pequenos grupos separados por um tênue estroma fibrovascular (Figura 7.15). Mas essas

células destacam­se facilmente umas das outras e, quando isoladas, adquirem a característica de forma esférica.

Figura 7.12 Carcinoma espinocelular bem diferenciado. Pele de cão. Apesar de a neoplasia ser maligna, o reconhecimento

do epitélio de origem é facilitado pela presença de características do epitélio original, como células queratinizadas (setas) e

de desmossomos (inserto – pontas de seta). No canto inferior esquerdo, vê­se queratina organizada concentricamente

(pérola córnea).

Figura 7.13 Carcinoma espinocelular multicêntrico in situ. Pele de gato. A superfície da pele localiza­se no canto superior

esquerdo da fotomicrografia, onde se pode ver parte da crosta que recobria a lesão. Diz­se in situ porque a lesão ainda não

ultrapassou a membrana basal do epitélio (pontas de seta). Vários sinais de malignidade podem ser observados na

neoplasia (desorganização, atipia nuclear e hipercromasia), além da presença de figuras de mitose (setas) não limitadas à

camada basal do epitélio. Nota­se, também, a presença de muitos mastócitos abaixo da lesão, o que é típico nos felinos.

Figura 7.14 Osteossarcoma osteoblástico produtivo. Cão. As células neoplásicas são de origem mesenquimal, pouco

diferenciadas. Podem ser reconhecidas como osteoblastos pela presença de matriz óssea imatura, ou osteoide (setas). Na

parte superior da fotomicrografia, existe uma mitose atípica, tripolar (M).

Diferenças histológicas entre neoplasias benignas e malignas

Uma vez reconhecido o tecido de origem da neoplasia, o próximo passo no exame histopatológico é determinar se ela é

benigna ou maligna. Isso se faz buscando algumas características morfológicas típicas das neoplasias malignas, avaliandose a arquitetura do tecido neoplásico, as formas de crescimento e proliferação e a morfologia das células neoplásicas em si,

principalmente do seu núcleo.

Diferenciação e indiferenciação

Este é um tópico que costuma ser motivo de dúvidas entre os clínicos. O termo diferenciação refere­se ao grau de

semelhança morfológica e, em menor grau, à semelhança funcional entre as células neoplásicas e o tecido normal que lhes

deu origem. Assim, uma neoplasia é dita diferenciada quando suas células mantêm as mesmas características morfológicas

e, às vezes, funcionais do tecido de origem. Em outras palavras, elas se parecem muito com as células de origem e, por

isso, são facilmente reconhecidas durante o exame histopatológico (Figura 7.16). Ser diferenciada é uma característica das

neoplasias benignas, e esta característica é particularmente evidente em dois tumores benignos mesenquimais: o liomioma e

o lipoma. Nesses tumores, as células neoplásicas são tão semelhantes às células normais que é praticamente impossível

reconhecê­las como neoplásicas examinando­as sob grande aumento. É necessário que se demonstre que as células

tumorais organizam­se como uma massa ou um nódulo para que se diagnostique neoplasia. Isso é um problema em lipomas

muito grandes, quando o cirurgião envia ao laboratório apenas um pequeno fragmento deles. Neste caso, o patologista não

tem condição de evidenciar que se trata de parte de um grande nódulo, e não apenas um fragmento de tecido adiposo

normal. Nos casos em que não foi possível comprovar que se trata de um nódulo, e tendo em vista a suspeita clínica, é

costume o patologista diagnosticar como “compatível com lipoma”

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