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Introdução

As neoplasias do sistema reprodutivo masculino de gatos são raras, ao contrário do que ocorre com cães. Nestes, as

neoplasias que aparecem com mais frequência são as testiculares, seguidas pelas penianas, prostáticas, prepuciais e

escrotais. Em cães, as neoplasias testiculares são benignas em sua maioria, diferentemente das neoplasias prostáticas, que,

em geral, são malignas. Com exceção do tumor venéreo transmissível, as neoplasias que envolvem escroto, pênis e

prepúcio são semelhantes quanto ao prognóstico e ao comportamento biológico, com localização na derme e epiderme.

Neoplasias testiculares em cães

Incidência e etiologia

As neoplasias testiculares representam 86 a 91% de todas as neoplasias do sistema reprodutivo, sendo a segunda forma de

afecções neoplásicas que mais acometem os cães machos e perde apenas para os tumores cutâneos. Os tipos histológicos

mais predominantes são os tumores de células de Sertoli ou sertoliomas (Figuras 44.1 e 44.2), os seminomas (Figura 44.3)

e os leydigocitomas ou tumores das células intersticiais de Leydig (Figura 44.4). Os sertoliomas e seminomas parecem ser

os mais frequentes, mas podem ocorrer em um mesmo animal dois ou três tipos de tumores (Figura 44.5). Os tumores

mistos são observados em um terço dos casos de neoplasias testiculares.

A frequência de ocorrência das neoplasias é maior no testículo direito em comparação ao esquerdo, semelhantemente ao

criptorquidismo. Outros tipos observados de neoplasias de rara ocorrência são: carcinoma embrionário, tumores de células

da granulosa, hemangioma, hemangiossarcoma (Figura 44.6), fibrossarcoma, neurofibrossarcoma, carcinoma

indiferenciado ou sarcoma.

A média de idade de diagnóstico é de 9 a 11 anos com uma amplitude de 2 a 19 anos. Os cães da raça Boxer são mais

predispostos ao desenvolvimento desse tipo neoplásico e, nesses animais, a idade média de ocorrência é 7 anos. Apesar

disso, os machos da raça Poodle (toy, miniatura e standard) também foram citados como os mais predispostos e acreditase que possa haver influência genética. Outras raças também podem apresentar frequência relativamente alta, como Pastoralemão, cujo tipo histológico mais comum é o seminoma, Weimaraner e Shetland Sheepdog, que apresentam maior

incidência de tumores de células de Sertoli, Schnauzer Miniatura, Yorkshire Terrier, Husky Siberiano e Afghan Hound. As

raças consideradas de baixa incidência são Dachshund, Beagle, Labrador Retriever e os sem raça definida.

Figura 44.1 Tumor de células de Sertoli em um cão adulto, sem raça definida. O testículo ectópico estava localizado na

região inguinal.

O criptorquidismo abdominal aumenta em 14 vezes as chances de desenvolvimento de neoplasias testiculares (tumores

de células de Sertoli e seminoma) quando comparado com cães normais. Nos cães criptorquídicos, os tumores de células de

Sertoli ocorrem em aproximadamente 60% dos casos e os seminomas, em 40%. É importante ressaltar que cães com

testículos ectópicos tendem a desenvolver neoplasias testiculares em idade mais precoce. Provavelmente, a mais elevada

temperatura a qual o testículo fora do escroto é submetido altera o desenvolvimento celular, e é uma das causas da

predisposição para a formação de neoplasia em animais com criptorquidismo. Além disso, alterações no cariótipo e a

presença de células aneuploides/poliploides, as quais estão relacionadas com o processo de oncogênese, podem ser a causa

da maior incidência de neoplasias em testículos ectópicos.

Figura 44.2 Aspecto macroscópico de um tumor de células de Sertoli unilateral de um cão adulto, da raça Husky

Canadense, com dimensões 11 × 7,5 × 8 cm e localização parapeniana. A. É possível verificar a diferença de tamanho do

testículo acometido (seta) pela neoplasia e o testículo localizado no escroto (*). Características externas (B) e internas (C)

do testículo atrofiado com localização escrotal.

A ocorrência de neoplasias mamárias em machos acometidos com leydigocitomas em testículos retidos também já foi

descrita, sendo consequência das alterações hormonais que esses animais são acometidos.

Comportamento natural

A grande maioria das neoplasias testiculares em cães não apresenta metástase, o que difere do comportamento agressivo

das neoplasias testiculares em seres humanos. Metástases ocorrem em menos de 10% dos casos de seminomas e tumores

de células de Sertoli e são raras nos leydigocitomas. Os linfonodos sublombares são os mais afetados pelas metástases. A

extensão para o rim ipsilateral, glândulas adrenais ou outros locais adjacentes da cavidade abdominal tem sido observada

em tumores de células de Sertoli abdominais de cães criptorquídicos. O sistema nervoso central, os olhos e o tecido

subcutâneo também foram relatados como alvos de metástases.

Figura 44.3 Aspecto macroscópico de seminoma de um cão adulto, da raça Pastor­alemão. É possível verificar a diferença

de tamanho entre o testículo neoplásico (seta) e o normal (*).

Figura 44.4 Aspecto macroscópico de um leydigocitoma em um cão adulto da raça Beagle.

Estudos demonstram que o tumor de células de Sertoli e o leydigocitoma apresentam raríssimas manifestações em

tecidos extratesticulares. O sinal clínico normalmente observado nesses pacientes é a feminilização, desaparecendo após a

orquiectomia.

A angiogênese exerce importante papel na progressão do câncer. Em razão disso, marcadores de angiogênese, como o

fator de crescimento endotelial vascular (vascular endothelial growth factor – VEGF) e a microdensidade vascular, têm

sido investigados por análises imuno­histoquímicas em cães normais e com seminomas, sendo as expressões de VEGF e

microdensidade vascular maiores nos cães com seminomas do que nos cães normais. Isso ocorre principalmente nos

seminomas difusos, que são anaplásicos quando comparados aos seminomas intratubulares e bem diferenciados. Esses

achados sugerem que a progressão dos seminomas em cães possa estar parcialmente mediada pelo aumento do processo de

angiogênese. Além disso, acredita­se que o VEGF possa ser um critério útil para avaliar a malignidade e o potencial de

crescimento dos tumores testiculares caninos.

Figura 44.5 Neoplasia testicular mista sertolioma (Sert) e seminoma (Sem) em cão adulto, sem raça definida, 9 anos. A.

Topografia do testículo neoplásico (esquerdo) e testículo sem alterações (direito). B. Aspecto mascroscópico da neoplasia

testicular (sertolioma/seminoma). C. Parênquima testicular saudável do testículo contralateral à neoplasia. Importante

ressaltar que os dois testículos apresentavam localização escrotal.

Ainda, os seminomas podem ser classificados em dois tipos: seminomas clássicos (citoplasma PAS positivos, expressão

de PLAP) e seminomas espermatocíticos (citoplasma PAS negativos, não expressam PLAP). Essa classificação utiliza a

histoquímica com ácido periódico de Schiff (PAS), uma coloração específica para o glicogênio ou a imuno­histoquímica

pela expressão da fosfatase alcalina placentária (PLAP) para identificação de gonócitos. As células do seminoma clássico

são menos diferenciadas e, consequentemente, apresentam gonócitos, diferentemente do seminoma espermatocítico, que

tem células mais diferenciadas. Um estudo (n = 43) identificou 20 seminomas clássicos e 23 espermatocíticos. Os

seminomas espermatocíticos apresentaram maior pleomorfismo celular e maior índice mitótico, contudo ainda não se

conhece nos cães a relevância clínica desses diferentes tipos e comportamento neoplásico do seminoma. Apesar disso,

outros autores afirmam que o seminoma clássico pode não existir ou é raro em cães.

Figura 44.6 Hemangiossarcoma testicular de um cão adulto, sem raça definida. A. É possível verificar que o testículo

neoplásico está na bolsa testicular (seta). B. Aspecto mascroscópico da neoplasia (seta) durante a exérese cirúrgica.

Sinais clínicos

Cerca de 10% das neoplasias testiculares de cães são achados acidentais durante exame físico ou necropsia. Quando há

manifestações clínicas, essas dependem do tamanho e da localização do testículo envolvido, sendo bem mais raros os sinais

de infertilidade. Se estes ocorrem, o são em razão da degeneração do epitélio seminífero normal causada por compressão

tumoral, reação imunomediada contra as espermatogônias ocasionada pela ruptura da barreira hematotesticular e atrofia

testicular induzida pelo hiperestrogenismo paraneoplásico. A atrofia testicular (testículo acometido pela neoplasia e o

contralateral) está relacionada com a supressão da secreção do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) e

consequentemente das gonadotrofinas LH (hormônio luteinizante) e FSH (hormônio foliculoestimulante) e pode ser

evidente em alguns tipos neoplásicos.

A feminilização paraneoplásica ocorre em 24 a 39% dos cães com sertolioma. Os testículos neoplásicos com localização

ectópica estão mais sujeitos a aumento na produção de estrógenos em comparação aos testículos neoplásicos de localização

escrotal. Em estudo com 51 cães portadores de tumor de células de Sertoli, observou­se a feminilização paraneoplásica em

cerca de 70% dos animais quando o testículo estava localizado no abdome; em 50%, quando localizado na região inguinal;

em 16%, quando na região escrotal. Em contrapartida, cães com leydigocitomas raramente expressam esses sinais clínicos.

Acredita­se que as causas do hiperestrogenismo sejam o aumento da conversão de testosterona e androstenodiona em

estrógenos pelas células testiculares anormais ou um desequilíbrio hormonal, em que há decréscimo dos andrógenos e

permanência de produção de estrógenos. Altas concentrações no sangue venoso periférico e testicular de estrógenos e

inibina foram detectadas em cães com tumores das células de Sertoli e leydigocitoma, quando comparados aos cães sem

neoplasia testicular. Em contrapartida, as concentrações de testosterona e LH estavam reduzidas nesses mesmos animais, e

as concentrações de FSH encontravam­se reduzidas apenas nos cães com tumor de células de Sertoli. Com base nesses

resultados, concluiu­se que os tumores de células de Sertoli secretam um dímero da inibina, que não é biologicamente

ativo. Como consequência, as concentrações de FSH permanecem altas, apesar das elevadas concentrações de estrógenos.

As concentrações de hormônios nos cães com seminoma não diferiram dos cães sem alterações testiculares.

Os sinais clínicos de hiperestrogenismo são alopecia bilateral simétrica não pruriginosa (dorso, flanco, parte interna dos

membros pélvicos, abdome, peito e base da cauda), hiperqueratose e hiperpigmentação (Figura 44.7), além de sinais de

feminilização, como ginecomastia (Figura 44.8) com ou sem galactorreia, prepúcio pendular, atração de outros machos,

atrofia do testículo contralateral e do pênis. Ainda pode ser notada elevada agressividade em cães acometidos pelo

hiperestrogenismo. Os elevados níveis de estrógenos podem causar um efeito supressor do hormônio estimulador da

tireoide (TSH) e ocasionar hipotireoidismo; consequentemente, os animais apresentam letargia ou outros sinais clínicos da

alteração.

A hipoplasia ou aplasia medular grave tem sido relatada em cães que apresentam hiperestrogenismo decorrente das

neoplasias testiculares. Os sinais clínicos relacionados com essa síndrome são hemorragia decorrente de trombocitopenia,

anemia e infecções secundárias (granulocitopenia).

Figura 44.7 Tumor de células de Sertoli em um cão adulto, sem raça definida. A. É possível verificar alopecia,

hiperpigmentação e hiperqueratose generalizadas. B. Testículo alterado na bolsa testicular. C. Prepúcio pendular (seta

preta) e neoplasia (seta vermelha). D. Neoplasia localizada na região parapeniana direita (seta).

Figura 44.8 Tumor de células de Sertoli em um cão adulto, da raça Cocker Spaniel. A. Notam­se alopecia e

hiperpigmentação da região dorsocaudal e membros pélvicos. B. Testículo retirado da região inguinal (orquiectomia). C.

Testículo acometido pelo sertolioma (seta branca) e testículo atrofiado com localização escrotal (seta amarela). D. Nota­se

a localização inguinal do testículo acometido por sertolioma (seta branca) e ginecomastia (setas pretas).

Suspeita­se que a causa da pancitopenia seja a interferência do estrógeno na diferenciação das células hematopoéticas,

dificultando a utilização do ferro pelos eritrócitos e seus precursores, o que provavelmente inibe a produção de fatores

estimulantes de eritrócitos.

O tumor de células de Sertoli é o tipo histológico mais frequente nos testículos ectópicos. As neoplasias variam de 1 a

12 cm de diâmetro com consistência firme. Os tumores com tamanhos excessivos (Figura 44.9) podem causar necrose e

hemorragia no interior do tecido. A metaplasia escamosa (Figura 44.10) ou a hiperplasia prostática benigna, acompanhadas

de cistos prostáticos, são comumente associadas ao hiperestrogenismo – por esse motivo, a glândula deve ser avaliada

nesses casos.

Os seminomas apresentam aparência homogênea, coloração amarela a creme na superfície de corte e comumente ocupam

um polo do testículo envolvido. De 5 a 10% dos seminomas desenvolvem metástases, principalmente para os linfonodos

regionais ou para as vísceras abdominais. A feminilização paraneoplásica, em geral, é menos frequente nos cães com

seminomas.

Em cães, os leydigocitomas são menores que os outros tumores testiculares, variando de 1 a 9 cm de diâmetro (88% têm

menos de 2 cm de diâmetro), crescem lentamente, não são invasivos e apresentam coloração amarela ou marrom. Na

maioria das vezes, são achados acidentais por ocasião da necropsia, em testículos que não estavam aumentados no período

antemorte. O comportamento maligno é muito raro nesse tipo de neoplasia. Em geral, o leydigocitoma não está associado

ao hiperestrogenismo, mas há relatos de que pode ocorrer hiperandrogenismo paraneoplásico, em razão da secreção

periférica de andrógenos pelo tumor, contribuindo para o aparecimento de neoplasias perineais e afecções prostáticas.

A torsão testicular associada às neoplasias testiculares pode ser uma complicação, especialmente quando o testículo está

localizado no abdome. A torsão testicular não tem sido relacionada com alterações congestivas ou necrose, mas provocam

dor abdominal. Tanto as torsões quanto a síndrome de feminilização são mais comuns nos sertoliomas de testículos retidos

bilateralmente.

Diagnóstico

O diagnóstico confirmatório das neoplasias testiculares em cães se dá rotineiramente pela histopatologia que, em geral, se

faz por biopsia excisional (orquiectomia) do testículo afetado. Porém, podem ser empregados métodos diagnósticos

complementares como citologia aspirativa com agulha fina, ultrassonografia, principalmente em testículos não palpáveis no

abdome, e radiografias abdominais. No exame ultrassonográfico, as neoplasias testiculares apresentam padrão heterogêneo

com áreas hipoecoicas ou anecoicas e ecogenicidade mista de textura grosseira (Figuras 44.10 e 44.11), mas áreas

hiperecoicas podem ser observadas em grandes massas e estão relacionadas com calcificação. A ultrassonografia pode

identificar as massas intrabdominais ou testiculares, especialmente quando são pouco aparentes, mas estão associadas aos

sinais clínicos. Os sinais clínicos (endócrinos), por sua vez, e os exames físicos (palpação) e laboratoriais (pancitopenia)

ajudarão na elucidação do diagnóstico. A citologia prepucial não é um exame usado para o diagnóstico de neoplasia

testicular, mas pode identificar células escamosas, que são indicativas do hiperestrogenismo (Figura 44.12). Nos casos em

que a histopatologia torna­se inconclusiva, pode­se indicar a imuno­histoquímica para a diferenciação neoplásica.

Figura 44.9 Tumor de células de Sertoli em um cão adulto, da raça Cocker Spaniel. É possível observar a diferença de

tamanho entre o testículo neoplásico (seta) e o testículo sem alterações (*).

Figura 44.10 Exame ultrassonográfico dos testículos e próstata de cão adulto da raça Terrier Brasileiro, 12 anos, com

tumor de células de Sertoli. A. Testículo direito (cabeças de seta) com estruturas hipoecoicas e anecoicas (seta). B.

Próstata no sentido longitudinal (7,60 × 4,03 cm) contendo estruturas anecoicas (cistos), compatíveis com metaplasia

escamosa.

Estadiamento

A classificação por estádios clínicos dos tumores testiculares de cães é realizada levando­se em consideração o

comportamento do tumor primário, o envolvimento dos linfonodos regionais, sendo estes os sublombares e os inguinais, e

a presença de metástase.

• Tumor primário (T):

T0: sem evidência do tumor

T1: tumor restrito aos testículos

T2: tumor invadindo a túnica albugínea

T3: tumor invadindo a rete testis e/ou epidídimo

T4: tumor invadindo o cordão espermático e/ou escroto

• Linfonodos regionais (sublombar, inguinal – N):

N0: sem envolvimento do linfonodo regional

N1: envolvimento do linfonodo regional ipsilateral

N2: envolvimento do linfonodo regional contralateral ou dos linfonodos regionais bilateralmente

Figura 44.11 Radiografia dorsoventral de um cão, sem raça definida, adulto, com leydigocitoma inguinal (seta).

Figura 44.12 Fotomicrografia de células prepuciais colhidas de um cão com tumor de células de Sertoli. É possível notar o

predomínio de células superficiais (seta). Coloração panótico rápido, aumento de 400 ×.

• Metástase a distância (M)

M0: ausência de metástases a distância

M1: presença de metástases a distância (especificar os locais).

Tratamento

O tratamento da neoplasia testicular em animais da espécie canina consiste na orquiectomia bilateral, não havendo

necessidade de tratamento complementar, em virtude de seu baixo poder metastático. Caso haja maior aderência na derme,

recomenda­se a ablação escrotal. A orquiectomia unilateral do testículo afetado pode ser realizada em cães reprodutores,

caso a ultrassonografia do testículo contralateral não exiba evidência de neoplasia bilateral. A recuperação do testículo que

permaneceu deve ser considerada 6 meses após a cirurgia, tempo exigido para o retorno da espermatogênese. A atrofia do

testículo contralateral, em razão da elevação da temperatura intraescrotal causada pela neoplasia, pode reduzir a fertilidade.

A orquiectomia bilateral é recomendada quando se observam alterações do cordão espermático ou de linfonodos regionais.

Nos casos de testículos retidos, também se recomenda a orquiectomia bilateral, incluindo o testículo sem alterações, já que

o criptorquidismo tem caráter hereditário, possivelmente causado por um gene recessivo.

A quimioterapia é raramente indicada, pois a cirurgia é curativa na maioria dos casos. Se forem observadas metástases,

indica­se a quimioterapia, utilizando­se a cisplatina (agente mais comumente usado, com maior atividade antiblástica em

neoplasias testiculares humanas), recomendando­se a dose de 60 a 70 mg/m

2

, intravenosa (IV), em intervalos de 21 dias,

de 3 a 6 infusões, sempre com protocolo de diurese salina para diminuir a nefrotoxicidade. A poliquimioterapia pode ser

estabelecida, tendo como fármacos a vimblastina (dose de 2 mg/m

2

IV, na 1

a e 5

a semana do ciclo), a ciclofosfamida (dose

de 200 mg/m

2 VO, na 3

a

semana do ciclo) e o metotrexato (dose de 0,5 a 0,8 mg/m

2

IV, máximo de 25 mg, na 7

a

semana

do ciclo). Os ciclos podem ser repetidos com intervalos de 2 semanas entre eles, quantas vezes forem necessárias, mas

sempre se avaliando a possibilidade de o paciente manifestar grave mielossupressão e cistite hemorrágica.

A radioterapia com césio (17 a 40 Gy) também foi descrita em quatro cães com seminoma metastático (linofonodo

regional), com regressão da neoplasia e sobrevivência por mais de 37 meses de três deles.

Prognóstico

O prognóstico para pacientes com neoplasia testicular é favorável, exceto quando ocorre aplasia de medula ou metástase.

Em casos em que ocorre pancitopenia, a transfusão sanguínea pode ser indicada, inclusive antes da cirurgia. Os sinais de

feminização desaparecem 4 a 6 semanas após a orquiectomia (Figura 44.13), exceto se ocorrerem metástases com produção

contínua de estrógenos por parte das células metastáticas. A persistência da mielotoxicidade após a cirurgia por até 2 meses

pode indicar prognóstico desfavorável, mesmo com a terapia auxiliar agressiva.

Perspectivas futuras

Estudo recente sobre alternativas de marcadores tumorais aponta para o uso da calretinina no tratamento de neoplasias

testiculares em cães. Essa proteína é carreadora de cálcio, está presente de modo abundante nos tecidos neurais normais e

tem sido evidenciada como um marcador viável em neoplasias testiculares humanas. Pela avaliação imuno­histoquímica de

102 amostras dos três tipos celulares mais frequentes de neoplasias testiculares e de tecido normal, concluiu­se que a

expressão da calretinina foi restrita para as células de Leydig em tecidos tumorais. Sua expressão foi detectada em tumores

de células de Sertoli, seminomas e leydigocitomas, sugerindo uma possível alternativa no uso de marcadores na imunohistoquímica.

A avaliação do índice de proliferação celular, mediante a utilização de antígeno nuclear de proliferação celular e Ki­67,

tem sido realizada em tumores de células de Sertoli e seminomas. Tumores anaplásicos normalmente expressam maior

índice de proliferação celular quando comparados aos tumores bem diferenciados. Outro estudo com regiões organizadoras

de nucléolo (AgNOR) demonstrou que seminomas invasivos intraductais e seminomas difusos apresentaram alta contagem

de AgNOR, contrapondo­se à sua baixa contagem nos seminomas não invasivos intraductais bem diferenciados.

Entretanto, são necessárias novas pesquisas para determinar se o AgNOR é um fator prognóstico seguro para cães

portadores de sertolinoma e seminomas.

Figura 44.13 Tumor de células de Sertoli em um cão adulto, da raça Husky Canadense. A. Anterior ao tratamento, notamse alopecia e hiperpigmentação generalizada. B. Crescimento inicial da pelagem 2 meses após o tratamento

(orquiectomia). C. Pelagem totalmente restabelecida 4 meses após o tratamento.

Neoplasias prostáticas em cães

Incidência e etiologia

A neoplasia de maior frequência na próstata dos cães é o adenocarcinoma (Figura 44.14). Outros tipos são também

relatados, como carcinoma pouco diferenciado, fibromioma, linfomas, liomioma, hemangiossarcoma, sarcoma, carcinoma

epidermoide e carcinoma das células transicionais. Em geral, esse último é secundário à neoplasia de bexiga e uretra.

O adenocarcinoma prostático geralmente é diagnosticado em cães mais idosos, sendo a média de idade entre 8 e 11 anos.

Esse tumor ocorre tanto em machos castrados (44,2%) quanto em machos inteiros (55,8%), entretanto alguns autores

relatam que machos inteiros são mais predispostos ao desenvolvimento da neoplasia. A orquiectomia pode aumentar a

incidência e a agressividade de carcinomas prostáticos em cães, em especial quanto ao desenvolvimento de metástase

pulmonar, quando comparados a cães inteiros. Não existem evidências de que as neoplasias prostáticas sejam hormôniodependentes. Também não se relata predisposição racial no aparecimento desse tipo de neoplasia.

Comportamento natural

Os carcinomas prostáticos são localmente invasivos e podem se desenvolver dentro da uretra prostática, causando

obstrução urinária. Podem também comprimir o reto, causando distúrbios intestinais. Outra possível complicação é a

invasão tumoral para dentro da bexiga e musculatura pélvica. As metástases são comuns e ocorrem por vias hematógenas e

linfáticas, acometendo principalmente linfonodos ilíacos, região lombar e pulmões. É comum observar metástases logo na

primeira consulta, pois normalmente os cães são levados para o atendimento quando há sinais clínicos e consequentemente

neoplasia em estádio avançado. A próstata não é um órgão incluído no exame clínico de rotina.

Os carcinomas prostáticos em cães e em seres humanos apresentam alta propensão a manifestar metástase óssea,

especialmente nos ossos pélvicos (Figura 44.15). Em 24% dos cães com carcinoma prostático submetidos à necropsia, há

metástase óssea, sendo esta a principal manifestação clínica de malignidade em 55% dos casos. Outra observação é que os

animais que apresentam metástase óssea são mais jovens que aqueles que não a apresentam. Esse resultado sugere uma

possível influência da idade no comportamento biológico dessa neoplasia. Os principais órgãos­alvo da metástase são as

vértebras lombares e a pelve.

Sinais clínicos

Os sinais clínicos das neoplasias prostáticas são em geral os mesmos observados nas neoplasias do trato urinário e podem

ser disúria e hematúria. Sinais gastrintestinais, como constipação intestinal e tenesmo, e sistêmicos, como astenia, perda de

peso e dor abdominal, também podem ser observados. Ataxia pode ser notada em razão da compressão da medula espinal

nas vértebras em decorrência de metástases e, em alguns casos, as porções proximais do fêmur e da tíbia podem ser

afetadas. Por fim, cães com metástase pulmonar difusa manifestam intolerância ao exercício, taquipneia e dispneia nos

estádios mais avançados da doença.

Diagnóstico

No exame físico, é comum que a próstata se encontre aumentada, palpável, de dimensões variadas, firme, nodular,

assimétrica e muitas vezes cística. Durante o exame clínico, por palpação retal, deve­se investigar se existe aumento de

volume dos linfonodos sublombares.

O exame radiográfico da próstata com suspeita de neoplasias revela, em geral, aumento de volume de dimensões

variáveis do órgão, podendo não diferir das dimensões da próstata de cães com hipertrofia prostática benigna. Em alguns

casos de neoplasias prostáticas, observam­se densidades minerais parenquimatosas de formas irregulares. Irregularidades e

defeitos no preenchimento da uretra prostática são observados na uretrografia retrógrada. Podem ocorrer estenose da uretra

prostática e distribuição assimétrica do parênquima do órgão, mas esse achado não é suficiente para fechar o diagnóstico. A

ultrassonografia da próstata traz informações importantes que podem sugerir a presença de uma neoplasia (Figura 44.16).

A palpação transretal da glândula prostática pode revelar aumento de volume, assimetria entre os lóbulos, aderência na

cavidade pélvica, nodulações e aumento da sensibilidade, sendo considerado um exame inicial indicativo de neoplasia.

Figura 44.14 Aspecto macroscópico de adenocarcinoma prostático canino em um cão, sem raça definida, adulto.

Figura 44.15 Mestástase pélvica (ísquio seta) de neoplasia prostática (adenocarcinoma) em cão adulto da raça Dachshund,

8 anos.

O exame citológico do ejaculado e a massagem da próstata podem ser executados, sendo eficazes principalmente nos

casos de adenocarcinoma, nos quais células neoplásicas podem ser encontradas. O diagnóstico definitivo somente será

confirmado quando realizada biopsia excisional ou incisional para exame histopatológico.

A biopsia por punção com agulha fina pode ser realizada; para tanto, é importante o auxílio da ultrassonografia como

guia. A abordagem deve ser por via perirretal ou transabdominal (Figura 44.17) com prévia sedação e anestesia local. Esse

procedimento pode ser seguido por hematúria temporária. É importante lembrar que é comum a ocorrência de

adenocarcinoma prostático em glândulas que também estão hipertrofiadas e que podem conter cistos ou infecção e, por

isso, as amostras coletadas pela biopsia devem ser interpretadas com cautela. Em razão disso, as biopsias por punção de

agulha estão contraindicadas caso esteja presente um abscesso, pois pode ocorrer peritonite localizada após esse

procedimento. A terapia com antibióticos pode prevenir a infecção após a biopsia, contudo é importante ressaltar que a

próstata apresenta uma barreira hematoprostática, e nem todos os antibióticos são capazes de atravessar essa barreira.

Na Medicina, a concentração de proteína secretória da próstata (PSA) é utilizada para avaliar a presença de carcinomas

prostáticos, mas em cães esse exame não é significativo, pois não existe diferença entre os animais normais e os que

apresentam neoplasias. A CPSE (canine prostate­specific arginine) e a fosfatase ácida foram também testadas como

marcadores de neoplasias prostáticas, porém não há valor diagnóstico dessas proteínas nos casos de neoplasias prostáticas

nos cães.

Figura 44.16 Exame ultrassonográfico da próstata de um cão adulto, sem raça definida. É possível notar aumento do

tamanho prostático, com presença de ecogenicidade mista.

Estadiamento

A classificação por estádios clínicos dos tumores da próstata se faz por comportamento do tumor primário, envolvimento

dos linfonodos regionais e presença de metástases:

• Tumor primário (T):

T0: sem evidência do tumor

T1: tumor intracapsular, circundado por glândula normal

• Linfonodos regionais (ilíacos internos e externos, N):

N0: sem envolvimento do linfonodo regional

N1: envolvimento do linfonodo regional

N2: envolvimento dos linfonodos regionais e justar regionais

• Metástase a distância (M):

M0: ausência de metástases a distância

M1: presença de metástases a distância (especificar os locais).

Os linfonodos regionais são os ilíacos internos e externos.

Tratamento

Os únicos tratamentos para a neoplasia prostática em cães são a excisão cirúrgica total ou parcial e a radioterapia

transcirúrgica. Nenhum desses procedimentos está associado ao prognóstico favorável, porque comumente a metástase

ocorre antes do diagnóstico. A prostatectomia está associada à elevada incidência de incontinência urinária, como resultado

de reduções nas pressões uretrais, em particular do esfíncter uretral externo e da instabilidade da musculatura detrusora.

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