provável que a alta prevalência das doenças malignas nas espécies canina e felina esteja correlacionada com a maior

longevidade desses animais, além do crescente aumento populacional. A literatura é enfática ao afirmar que a longevidade

excepcional de cães e gatos está associada ao aparecimento de doenças complexas, como o câncer. A prevenção das

doenças infectocontagiosas, mediante esquemas vacinais, os avanços tecnológicos – permitindo maior precisão diagnóstica

e terapêutica – e o fornecimento de dietas específicas por meio de rações balanceadas e terapêuticas, possibilita que cães e

gatos tenham maior expectativa de vida. E, assim, a incidência das neoplasias aumenta, pois, quanto maior o tempo de vida

do animal, maior é a sua exposição aos agentes cancerígenos.

Em países desenvolvidos como a Dinamarca, a Suécia, os EUA e o Japão, as principais causas de morte em cães são as

doenças crônico­degenerativas. No Brasil, a transição epidemiológica ainda está acontecendo para cães e gatos. Na cidade

de São Paulo, foi estimado, para cães, que as doenças infecciosas são as principais causas de morte e as principais

responsáveis pela diminuição na longevidade da população. Essas poderiam ser prevenidas por adesão a medidas de

imunoprofilaxia e vermifugação. As doenças neoplásicas foram a segunda causa de morte encontrada pelos autores,

equivalendo a 13,28% dos casos, com sobrevida mediana de 84 meses. Uma avaliação dos óbitos no Hospital Veterinário

da Universidade Norte do Paraná (UNOPAR), em Arapongas (PR), entre julho de 2005 e julho de 2009, demonstrou

longevidade de 59,97 e 82,79 meses em cães e gatos, respectivamente. Nesse estudo, as doenças infecciosas ou parasitárias

foram as principais causas de morte (47,27%) em cães, seguidas por distúrbios causados por agentes físicos (13,18%) e,

depois, por neoplasias (10%). Os casos de neoplasia foram representados por 68,18% de animais idosos e a longevidade

média foi de 125,4 meses. Em um levantamento retrospectivo dos protocolos de necropsia do Laboratório de Patologia

Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria, constatou­se que as doenças infecciosas e parasitárias são a maior

causa de morte (35%), especialmente importantes em animais jovens (55,3%) e adultos (27,5%). As neoplasias

representam a maior causa de morte somente em animais idosos (32%), seguidas por doenças degenerativas (22,6%).

Sistemas de informação em saúde

A obtenção desses indicadores só é possível com o fluxo de dados sobre os pacientes (Tabela 1.2) – e também de seus

proprietários quando se faz referência aos animais de companhia –em sistemas de informação de saúde. Os sistemas

básicos que governam os indicadores são os sistemas de Informação de Mortalidade, Registros de Câncer Hospitalares e

de Base Populacional, além dos censos populacionais. A implantação e a manutenção desses sistemas de coleta

sistemáticos requerem recursos, treinamento técnico especializado e uma série de padrões e protocolos para a garantia da

representatividade e qualidade das informações armazenadas nos bancos de dados.

Em 1990, estimou­se que 18% da população mundial era coberta por um registro de câncer; desse grupo, 64% eram

países desenvolvidos e 5%, países em desenvolvimento. Nesse mesmo ano, somente 42% da população humana mundial

era coberta por um sistema vital de registro de mortalidade. A necessidade de uma infraestrutura específica, da formação

de profissionais em Epidemiologia do Câncer, do treinamento de equipe e da capacidade de trabalho e coleta multicêntrica

nos dados faz com que essa informação não consiga ser obtida para seres humanos em muitos países – na África e na

Ásia, segundo o GLOBOCAN de 2008, apenas 11 e 8%, respectivamente, da população é coberta por um sistema de

registro. Ao selecionar apenas registros considerados de alta qualidade, a fração da população mundial cai para 8%, com

África e Ásia responsáveis unicamente por 1 e 4% dessa população, respectivamente.

Registros de Câncer podem ser hospitalares ou de base populacional. Os Registros Hospitalares de Câncer (RHC)

visam a dispor de uma fonte sistemática de dados nas respectivas unidades sobre a ocorrência do câncer, utilizando as

informações coletadas para avaliar a evolução dos pacientes, gerar trabalhos científicos e melhor alocar os recursos

utilizados para diagnóstico e tratamento. Os Registros de Câncer de Base Populacional são responsáveis por determinar a

incidência da doença, mortalidade e sobrevida, em determinada área geográfica, e usam informações dos RHC locais,

sistemas de informação de mortalidade e banco de dados de laboratórios.

Tabela 1.2 Informações básicas a serem pesquisadas em um registro de câncer.

Nível Variável Comentário

Paciente

Identiꚦ횅cação

individual

Númeroderegistro Geradopeloregistro

Nome –

Sexo Condiçãoreprodutiva, seconhecida

Datade nascimento Estimado, se nãoconhecido(anode nascimento)

Endereçodoproprietário –

Tumor Datadodiagnóstico –

Basediagnóstica Microscópicoou não microscópico

Topograꚦ횅a(localização) Tumorprimário

Morfologia(histologia) Indicarosistemadecodiꚦ횅cação

Comportamento Benigno/maligno

Fontedeinformação

Tipo: clínico, laboratoriale necropsia

Fontedodado: nomedaclínica, laboratórioou

patologista

Adaptadade Nödtvedtetal.,2012.

1

Os registros de câncer em Medicina Veterinária têm existido em pequeno número e, em geral, com baixo tempo

depermanência, além de natureza esporádica. Os primeiros inicia­ram suas atividades na década de 1960, e a maioria está

inativada. Na América do Norte, pode­se citar o Kansas University Neoplasm Registry Records (1961­1972), o California

Animal Neoplasm Registry (1963­1967), o Veterinary Medical Data Base (1964, ainda ativo), o Tulsa Registry of Canine

and Feline Neoplasms (1972­1977), o Purdue Comparative Oncology Program (1979, ainda ativo), o de Cornell (1980,

ainda ativo) e o Comparative Oncology and Genomics Consortium (2006, ainda ativo – é um banco de tumores). Na

Europa, é possível citar o Norwegian Canine Cancer Registry (1990, ainda ativo), o Animal Tumor Registry de Gênova,

Itália (1985­2002), o Animal Tumour Registry de Veneto, Itália (2005, ainda ativo) e o Danish Veterinary Cancer Registry

(2006, ainda ativo). Alguns relatos são feitos no Reino Unido, onde se usam informações de cães assegurados. Alguns

registros surgem com abrangência internacional, via internet, e com proposta de voluntariado para os médicos veterinários,

como o VetCancer Registry (<www.vetcancerregistry.com>), em 1994, e o Texas Veterinary Cancer Registry

(<texasvetcancerregistry.com>), em 2011. Uma revisão mais detalhada sobre registros de câncer animal, sua história e

benefícios para a Medicina Veterinária pode ser encontrada na ánalise de Brønden et al.

2

Por realizarem uma coleta sistemática das informações ao longo dos anos de forma multicêntrica e em constante

evolução, os Registros de Câncer Animal, em geral, são as melhores fontes para obtenção de dados sobre Epidemiologia

do Câncer em Animais. A extrapolação desses dados para a realidade brasileira, entretanto, deve ser cuidadosamente

considerada, uma vez que o ambiente, o estado reprodutivo, o perfil racial e genético da população de cães e gatos variam

muito entre os países. No Brasil, em 2013, foi fundado o Registro de Câncer Animal de São Paulo, ligado ao Núcleo de

Apoio à Pesquisa em Oncologia Veterinária (NAP­ONCOVET) e à Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da

Universidade de São Paulo (USP), com suporte financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

(FAPESP).

Em agosto de 2010, na Norwegian School of Veterinary Science, Oslo, Noruega, aconteceu um workshop dos Registros

de Câncer Animal dos diferentes países. Nesse encontro, foram indicadas as informações mínimas que devem ser

coletadas por um registro de câncer animal, mas que podem ser usadas como modelo para a coleta de informações na

prática clínica.

Mesmo com o advento da captação eletrônica de dados, a dificuldade para se obter uniformidade nos dados permanece

um grande desafio. Para viabilizar as comparações, formularam­se codificações internacionais, padronizando­se

informações como grau, comportamento e estadiamento do tumor.

Para registrar um paciente, seu diagnóstico e os procedimentos realizados na prática hospitalar, deve­se adotar um

sistema de codificação. Atribuir um código numérico ou alfanumérico a uma variável é fundamental para podermos

estabelecer comparações entre as diferentes instituições, evitando classificações errôneas e facilitando a análise estatística

da informação. Em estudos observacionais, muitas vezes é necessário gerar os próprios códigos, porque eles nem sempre

estão padronizados ou conferem com a necessidade da pesquisa. Na Medicina Humana, alguns dos códigos e classificações

mais importantes que podemos citar para uso em Epidemiologia do Câncer são:

• Classificação Internacional de Doenças (CID): essa classificação teve início em 1893, servindo como base para

classificar e codificar as causas de morte. Após a Segunda Guerra Mundial, a OMS tornou­se responsável pela publicação

dessas classificações (CID). Em 1999, foi lançada a 10

a edição, vigente até o momento

• Classificação Internacional de Doenças para Oncologia (CID­O): essa publicação foi elaborada especificamente para

doenças oncológicas e separa os códigos de topografia (localização) e morfologia (diagnóstico). Até 1968, a OMS

utilizava a CID para a classificação de doenças oncológicas, entretanto os códigos somente indicam a localização e a

malignidade tumoral. Em virtude da necessidade de associar o diagnóstico morfológico, foi lançada a 1

a edição da CIDO, associando a topografia da 9

a edição da CID com o Manual de Nomenclatura de Tumores e Códigos (MOTNAC),

desenvolvido pela American Cancer Society. O College of American Pathologists (CAP) adotou a morfologia da CID­O

como uma das bases do SNOMED e mantém convênio para utilizar os diagnósticos morfológicos para oncologia em sua

base de dados

• Classificação de Tumores Malignos (TNM): foi desenvolvida por Pierre Denoix entre 1943 e 1952. A International

Union Against Cancer (UICC), em 1968, publicou o primeiro Livre de Poche (livro de bolso) com a agregação dos

estudos de estadiamento tumoral realizados a partir da proposta feita por Denoix. Atualmente, está na 7

a edição do livro,

denominado TNM, e serve como guia para gerar o estádio para os diferentes tipos de câncer em seres humanos

• Systematized Nomenclature of Medicine Clinical Terms (SNOMED CT): sistema de codificação elaborado para

registros eletrônicos em saúde. Extremamente detalhado e codificado para o uso de computadores, que pode ser mapeado

traduzido para gerar resultados conforme a CID. Foi elaborado pelo American College of Pathologists e, desde 2007, é

mantido e distribuído pela International Health Terminology Standards Development Organisation (IHTSDO).

Os sistemas humanos a seguir foram citados porque foram a base para a formação de algumas importantes

classificações sobre agravos e procedimentos em saúde na Medicina Veterinária:

• TNM (OWEN, 1980): é a publicação oficial da OMS para estadiamento clínico e patológico de doenças oncológicas em

animais. Foi elaborado em dois encontros em Genebra nos anos de 1978 e 1979 com base na publicação humana da Union

for International Cancer Control (UICC). Continua o principal guia de estadiamento na literatura veterinária

• Veterinary Nomenclature Codes (VeNom): sistema de termos veterinários desenvolvido pelo VeNom Coding Group em

cola­boração com a Royal Veterinary College (RVC) e a University of Glasgow Faculty of Veterinary Medicine

(UGFVM) e a PDSA. Foi desenvolvido com o objetivo de ser tão robusto quanto o SNOMED, porém mais simples e

acessível (open access)

• Standard Nomenclature of Veterinary Diseases and Operations (SNVDO): vocabulário veterinário controlado,

desenvolvido desde 1964 pela Epizoology Section of the National Cancer Institute and the College of Veterinary Medicine

na Michigan State University. Essa nomenclatura foi feita em conjunto com a 5ª edição da Standard Nomenclature of

Diseases and Operation (SNOD). É o atual sistema de nomenclaturas e codificações usadas pelo Veterinary Medical

Database (VMDB), base de dados americana que conta com aproximadamente 7 milhões de registros de pacientes

animais (não exclusiva para doenças oncológicas)

• Systematized Nomenclature of Medicine Clinical Terms (SNOMED CT): a American Veterinary Medical Association

(AVMA), desde 1995, selecionou o SNOMED

3

(adaptado) como método de codificação oficial para a representação dos

conceitos em Medicina Veterinária.

A convivência entre cães e seres humanos é um fato relevante nas últimas décadas e, provavelmente, relaciona­se a

mudanças nas estruturas familiares. Cada vez mais, o cão e o gato convivem estritamente com o ser humano, tornando­se

um membro da família. Com frequência, os animais representam companhia para pessoas idosas, divorciadas, solteiras,

crianças e casais sem filhos, existindo assim um grande envolvimento emocional entre o ser humano e os cães e os gatos.

Isso faz com que a população de animais de companhia se amplie. Na cidade de São Paulo, SP, Brasil, estima­se que

existam 2.507.401 cães e 562.965 gatos, entretanto essas informações não estão disponíveis de forma precisa para todas as

regiões.

Registros demográficos completos, em geral, não estão disponíveis para animais de companhia. A maioria dos

pesquisadores utiliza dados da população hospitalar, e são poucos os que usam uma população de base estimada ou

censitária. Entre as alternativas encontradas, estão os registros oficiais dos governos (p. ex., países como a Dinamarca e a

Itália apresentam determinação legal para o registro de posse de cães), dados de Kennel Clubs, a estimativa da população

de animais de companhia por inquérito domiciliar (como nos distritos de Alameda e Contra Costa, Califórnia, EUA) e os

registros da população atendida pelos médicos veterinários e por meio dos cadastros públicos de vacinação ou das

empresas de seguro animal (como no Reino Unido). Registros de cadastros não oficiais, por não corresponderem à adesão

total, costumam gerar subestimativas, e os registros dos hospitais perdem o refinamento da delimitação geográfica dos

pacientes. A falta de censos, certificações de mortes e registros de neoplasia geram estudos epidemiológicos que

dificilmente são comparáveis.

Epidemiologia

Neoplasias no mundo

Em 1961, o Kansas University Neoplasm Registry Records do Department of Veterinary Pathology, College of Veterinary

Medicine, Kansas State University, iniciou o registro de dados clínicos e patológicos (diagnóstico histopatológico por

amostras biopsiadas em ato cirúrgico) em equinos e caninos, portadores de tumores, atendidos naquela universidade. Em

1972, o Registro encerrou suas atividades, completando 3.837 casos caninos e 287 equinos. Desde então, uma série de

registros de câncer animal surgiu e começou a gerar dados referentes à incidência populacional e à ocorrência hospitalar

multicêntrica de neoplasias benignas e malignas em cães e gatos. A Tabela 1.3 mostra resultados publicados dos registros

Animal Tumor Registry of the Vicenza and Venice Provinces of Veneto Region, Itália, Eletronic Medical Record de

Ontário, Canadá, de uma seguradora animal no Reino Unido, Animal Tumor Registry of Genoa, Itália, California Animal

Neoplasm Registry, EUA, e Tulsa Registry of Canine and Feline Neoplasms, EUA.

Em uma pesquisa de dados post­mortem, realizada em 1982 nos EUA, incluindo 2 mil cães, concluiu­se que o câncer foi

a causa mais comum de óbito, representando aproximadamente 23% das mortes. Em 1999, no Reino Unido, 16% dos cães

foram a óbito por câncer.

Tabela 1.3 Incidência de neoplasias em cães e gatos conforme publicado pelos Registros de Câncer Animal ou

correlatos.

Estudo País Incidência de neoplasias a cada 100milcães por ano

Maligna e benigna Benigna Maligna

Cães Vascellarietal. (2009)

4

Itália 282,2 140 143

Reid-Smith etal. (2000)

5

Canadá 3.965 3.113* 852

Dobson etal. (2002)

6 Reino Unido 1.948 1.200,1* 747,9

Merloetal. (2008)

7

Itália 1.070* 760 310

Dorn (1967)

8

EUA 1.515* 1.134 381

McVean etal. (1978)

9

EUA 1.416 909* 507

Estudo País Incidência de neoplasias a cada 100mil gatos por ano

Maligna e benigna Benigna Maligna

Gatos Vascellarietal.(2009)

4

Itália 77 14 63

Reid-Smith etal. (2000)

5

Canadá 429 110* 319

Dorn (1967)

8

EUA – – 155

McVean etal. (1978)

9

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