3 Para os oftalmologistas veterinários, no entanto, o bulbo ocular é, com certeza, um local onde se pode

diagnosticar comumente uma grande variedade de neoplasias primárias e secundárias (metastáticas) até mesmo com certa

frequência, pois exames de diagnóstico por imagem, como a ultrassonografia oftálmica modo A e B, são realizados com

muita frequência por esses profissionais. Clinicamente, na presença de neoplasias intraoculares pode­se observar grande

variedade de sinais no tecido primariamente afetado ou nas estruturas vizinhas, como aparecimento de estruturas de

coloração díspar, opacidade dos meios oculares, desconforto e mudança na forma da pupila ou do bulbo ocular. Geralmente,

são esses os motivos que fazem os proprietários levarem o paciente ao médico­veterinário. Desse modo, a neoplasia

intraocular mimetiza ou incita doenças inflamatórias oculares, causando sinais clínicos típicos de doença intraocular, como

quebra da barreira hematoaquosa, causando efeito Tyndall (dispersão coloidal ou flare), hifema (sangue na câmara anterior)

e até mesmo glaucoma secundário. Em geral, tais achados são observados em animais com problemas oculares crônicos

causados por neoplasia. Esses mesmos pacientes podem apresentar, ainda, lesões como opacidade de córnea, em geral

secundária à edema de córnea, e até buftalmia, naqueles com glaucoma crônico. Tais opacidades dos meios oculares

prejudicam de modo substancial a avaliação das estruturas intraoculares com a lâmpada de fenda e/ou o oftalmoscópio.

4

As neoplasias oculares primárias surgem das pálpebras, dos anexos oculares, do nervo óptico, ou das túnicas que

compõem o próprio bulbo do olho. Essas neoplasias, quando acometem as estruturas bulbares, originam­se de qualquer

uma das três camadas teciduais que compõem o olho, mas apenas as neoplasias de melanócitos da úvea e os tumores

neuroectodérmicos apresentam maior frequência. A maioria dos tumores intraoculares é de natureza benigna em termos de

aparência histológica ou potencial metastático, mas podem ser localmente invasivos e em um espaço confinado com

estruturas tão delicadas e organizadas, como as do bulbo do olho e órbita, e produzir distorção tissular significativa com

consequente perda de função (visão) total ou parcial, opacidade dos meios oculares e/ou glaucoma.

Os tumores primários do olho como um todo (incluindo os anexos oculares) mais comuns em cães e gatos são:

carcinoma espinocelular (principalmente em gatos), epitelioma e adenoma tarsal (principalmente em cães),

melanocitoma/melanoma da úvea e adenoma ciliar. As neoplasias oculares metastáticas são, de modo geral, publicadas com

pouca frequência na literatura médica veterinária, mas começam a ser mais diagnosticadas nos serviços de histopatologia

ocular aliados a um serviço de oftalmologia veterinária, com frequência presentes em algumas universidades no Brasil e no

exterior. Os tumores metastáticos mais comuns no bulbo ocular dos cães são o adenocarcinoma mamário e o melanoma

oral maligno. No Brasil, curiosamente, condrossarcomas metastáticos ocorrem também com alguma frequência.

5­7 Nos

gatos, os tumores metastáticos mais comuns são o adenocarcinoma pulmonar e o adenocarcinoma mamário. O principal

diferencial histológico para o diagnóstico desses tumores é o tumor epitelial iridociliar primário. Além desses, há linfoma

ocular, neoplasia infiltrativa que frequentemente acomete os olhos de cães e gatos.

Os vasos sanguíneos da úvea são vias comuns de metástases. Nesses casos, a oclusão vascular somada à inflamação em

resposta ao antígeno tumoral, ou da necrose do tumor ou ainda do tecido danificado, podem causar doença intraocular

significativa. Apenas um exame oftálmico completo pode identificar o tecido de origem do tumor e sua extensão, assim

estabelecendo um plano de tratamento e, posteriormente, um prognóstico. Uma série de neoplasias já foi descrita

acometendo o bulbo ocular e seus anexos. Frequentemente, as neoplasias apresentam comportamentos distintos quando

localizadas em diferentes estruturas oculares. Por esse motivo, é fundamental um exame oftálmico detalhado para

identificar a origem da lesão.

A seguir, serão discutidos alguns aspectos das neoplasias oculares de diagnóstico mais comum em pequenos animais.

Neoplasias da órbita

As neoplasias da órbita são pouco comuns, em geral ocorrendo em animais idosos (média de idade de 9,5 anos) e em sua

maioria, são tumores primários (60 a 70% dos casos) e malignos (80 a 90% dos casos) com mau prognóstico. Essas

neoplasias podem estar primariamente dentro da órbita, surgir por extensão das estruturas adjacentes ou por via

hematógena. Em um estudo retrospectivo na Universidade de Auburn, de 16.655 casos admitidos em um período de 16

anos, 530 tiveram diagnóstico de neoplasia e, destes, apenas 21 eram de localização orbital e somente três eram primários.

8

As massas orbitárias retrobulbares produzem, em geral, desvio ou protrusão do bulbo, causando ceratoconjuntivite por

exposição. As estruturas orbitárias que podem dar origem a neoplasias são músculos, gordura, vasos sanguíneos, nervo

óptico e ossos que compõem a órbita. Entre os tumores orbitais primários encontrados em cães, os sarcomas são muito

mais prevalentes que os tumores epiteliais e se caracterizam por serem formados por células alongadas e localmente

infiltrativas. As metástases são raras, mas seu crescimento infiltrativo nesse espaço restrito compromete inúmeras

estruturas vizinhas e com frequência resulta na eutanásia do paciente. Uma neoplasia que se comporta de modo distinto é o

osteoma multilobular, que surge dos ossos da órbita e tem morfologia e comportamento idênticos aos que surgem em

outros locais do crânio canino. A maioria das neoplasias epiteliais primárias da órbita canina é de adenocarcinomas

lacrimais, localmente invasivos e que apresentam recorrência após ressecção, mas não causam metástases a curto prazo.

Existem, ainda, tumores que infiltram a órbita a partir de tumores próximos.

4,9 Além desses, é possível diagnosticar

neoplasias benignas de origem lacrimal ou salivar, denominadas adenomas orbitais lobulares.

10

Os crescimentos tumorais orbitários devem ser diferenciados de condições inflamatórias como abscessos ou celulites

orbitárias

4 e de lesões dos ossos da órbita. Clinicamente, os tumores orbitários de localização retrobulbar caracterizam­se

por serem, em geral, unilaterais e com evolução progressiva. Em muitos desses casos, os pacientes não sentem dor e

podem apresentar exoftalmia, diminuição da retropulsão, estrabismo e protrusão da terceira pálpebra (Figura 27.1),

observando­se em algumas dessas vezes uma dificuldade na movimentação do bulbo ocular. Nos casos em que a massa

neoplásica retrobulbar causa compressão ou estiramento do nervo óptico, pode haver comprometimento aferente do reflexo

pupilar com possibilidade de comprometimento visual e alterações estruturais do próprio nervo óptico (p. ex., papiledema)

que potencialmente se observam durante a fundoscopia de rotina. Quando a neoplasia origina­se no nervo óptico (p. ex., o

meningioma), o animal apresentará cegueira do olho acometido. De modo alternativo, quando a localização da neoplasia se

dá em uma porção mais cranial da órbita, pode ocorrer enoftalmia (afundamento do bulbo ocular na órbita). Muitas vezes,

essas neoplasias orbitárias são bastante agressivas. Nesses casos, pode haver completa destruição do assoalho ósseo da

órbita, como nos casos de fibrossarcomas (Figura 27.2) e neurofibrossarcomas.

11 Outras neoplasias orbitárias causam

cegueira de modo direto ou indireto, e as complicações oculares mais frequentes são ceratite por exposição, aumento

moderado da pressão intraocular, uveíte ou descolamento de retina.

12­14

O diagnóstico é realizado por meio dos achados clínicos e de exames complementares como ultrassonografia ocular

modo A e modo B, radiografia, tomografia e/ou ressonância magnética. A radiografia do crânio é importante para descartar

envolvimento ósseo. Já o diagnóstico citológico por biopsia aspirativa por agulha fina (BAAF) pode ser realizado sob

anestesia geral e com auxílio de exames de imagem, porém é importante ter cuidado para não causar perfuração da esclera

ou danificar o nervo óptico.

Figura 27.1 Cão, sem raça definida, 8 anos, que apresenta massa neoplásica retrobulbar (adenocarcinoma lacrimal),

provocando exoftalmia, estrabismo e protrusão da membrana nictitante no olho esquerdo. Imagem cedida por LabocoUFPR.

O tratamento, na maioria dos casos, é a exenteração. A recidiva orbitária é uma complicação comum. Outras opções

cirúrgicas, como a orbitotomia e a orbitectomia, podem ser realizadas na tentativa de preservar o bulbo ocular. A

quimioterapia é recomendada em casos de linfomas retrobulbares.

Carcinoma espinocelular

O carcinoma espinocelular, ou carcinoma de células escamosas, surge do epitélio conjuntival do limbo, da conjuntiva

bulbar, da terceira pálpebra, ou da epiderme das pálpebras, ocorrendo com maior frequência no gato (Figura 27.3) e em

outras espécies (bovina, equina) do que no cão. O fato de ser uma neoplasia rara em cães é sem dúvida peculiar e, até o

momento, sem explicações científicas definitivas. Essa neoplasia epidérmica pode ser multifocal e apresentar aspecto

macroscópico similar ao de um papiloma (exofítico) ou, ainda, erosiva, com destruição do tecido orbital e/ou penetração

variável nos tecidos do bulbo do olho. O carcinoma espinocelular ocorre com frequência em conjunto com inflamação

crônica da margem palpebral e da conjuntiva. Em gatos, o carcinoma espinocelular ocular afeta com maior frequência a pele

da face, a margem palpebral ou a conjuntiva palpebral. Gatos brancos ou gatos com pelagem de qualquer coloração, mas

com manchas brancas na região palpebral, são particularmente suscetíveis – pelo fato de essa área ser despigmentada. O

carcinoma espinocelular nesses animais pode ocorrer de modo simultâneo ou sequencial, na margem das pálpebras, no

pavilhão auricular, no nariz e nos lábios. As lesões iniciais se assemelham à necrose epitelial induzida pela radiação solar

ou podem até mesmo ser ulceradas e inflamadas em um grau que mascara clinicamente as características neoplásicas e

atrasam o início de um potencial protocolo terapêutico apropriado. O crescimento da neoplasia não segue uma regra

específica, mas tende a ser circunferencial ao redor da margem palpebral, resultando por vezes em fissura da pálpebra

quando envolvida por uma massa tumoral grande. O aspecto avermelhado, úmido, ulcerado e crostoso é característico e de

observação muito comum na clínica (Figura 27.3). As metástases podem ocorrer para linfonodos regionais, mas em geral

só ocorrem na doença avançada.

4 Em cães, o carcinoma espinocelular dificilmente acomete o bulbo do olho. Todavia,

existem raros casos já relatados

15,16

, inclusive uma citação de um caso brasileiro no qual a neoplasia acometeu a superfície

da córnea de um cão da raça Buldogue (Figura 27.4).

17

Figura 27.2 A e B. Gato, sem raça definida, 6,5 anos, que apresenta crescimento neoplásico orbitário erosivo e infiltrativo

(fibrossarcoma com alto grau de indiferenciação), provocando a completa destruição de assoalho ósseo da órbita, margem

palpebral, conjuntiva palpebral e bulbar, do lado esquerdo. O respectivo bulbo ocular esquerdo, curiosamente, ainda se

encontrava no fundo desta órbita, em condições histológicas relativamente boas, mas em uma localização anormal ao

extremo (mais ventral e interna) e sem as inserções dos músculos extraoculares no momento da fotografia. Imagem cedida

por Laboco­UFPR.

Figura 27.3 Diferentes graus de gravidade do carcinoma espinocelular (carcinoma de células escamosas) em gatos. A.

Gato, 11 anos, sem raça definida, com lesão ulcerativa/erosiva que foi diagnosticada como carcinoma de células

escamosas invasivo acometendo a pálpebra superior e inferior. É possível notar como a córnea apresenta alterações

secundárias à perda da proteção palpebral, como ulceração, edema e vascularização. B. Gata, sem raça definida, 5 anos

de idade, com lesão neoplásica ulcerativa/erosiva e infiltrativa extremamente grave, incluindo as margens palpebrais inferior

e superior, que comprometeu também o tecido conjuntival e a membrana nictitante do bulbo ocular direito.

Epiteliomas e adenomas sebáceos palpebrais

Duas neoplasias comumente diagnosticadas nas pálpebras de cães são o adenoma (Figura 27.5 A) e o epitelioma sebáceos

(Fi­gura 27.5 C). Ambas são benignas, como a maior parte das neoplasias palpebrais nos cães, e de origem epitelial, porém

com diferenciações celulares marcantes. Por se tratar de proliferações nodulares na margem palpebral, elas podem causar

obstrução dos ductos das glândulas sebáceas tarsais, o que pode levar ao hordéolo ou calázio, dificultar o fechamento das

pálpebras ou ainda entrar em contato com a córnea, causando ceratites e até mesmo úlceras de córnea. Diante disso, é

indicada sua remoção. A exérese cirúrgica, quando feita de forma adequada, é corretiva.

Figura 27.4 Carcinoma espinocelular na superfície da córnea de um cão da raça Bulldogue, 6 anos de idade, que também

apresenta entrópio e ceratoconjuntivite seca. A. É possível observar a massa tecidual elevada (seta) de coloração rósea,

com alguns pontos avermelhados discretos, localizada na região central/ventromedial da córnea direita do paciente.

Imagem cedida por Laboco­UFPR. B. Fotomicrografia da massa corneana do mesmo paciente. É possível verificar a

presença de proliferação difusa das células do epitélio da córnea com alto grau de atipia celular, nucléolos evidentes e

anisocariose. Algumas células demonstram relação núcleo/citoplasma extremamente elevada. Em algumas áreas, é

possível identificar desmossomos entre as células atípicas (seta). Diagnóstico: carcinoma espinocelular. Magnificação: 400

×. Coloração de hematoxilina­eosina. Imagem cedida por Laboco­UFPR e Werner & Werner Patologia Animal Ltda.

Macroscopicamente, o adenoma e o epitelioma são semelhantes, e sua diferenciação é feita por meio do exame

histopatológico. Histologicamente, ambos se apresentam como proliferações nodulares de células de origem epitelial que

atingem a derme, podendo estar ou não revestidos por cápsula fibrosa. Porém, no adenoma é possível observar a presença

de tecido glandular sebáceo bem diferenciado (Figura 27.5 B), enquanto o epitelioma exibe em maior quantidade células

basais pouco diferenciadas (Figura 27.5 D), com áreas de diferenciação e maturação sebáceas. Outra característica

histológica é a presença de pigmento, a qual é comum no epitelioma e incomum no adenoma. Infiltrados inflamatórios

também podem ser observados concomitantes a essas neoplasias.

A literatura estadunidense

4,18,19 cita maior prevalência de adenomas do que de epiteliomas palpebrais em cães, o que

diverge com o que é visto no Brasil. Tal diferença foi observada inicialmente em um estudo de 40 casos

20 e, depois, em um

estudo desenvolvido no LABOCO­UFPR. Tal fato também foi observado no Laboratório Werner & Werner, Curitiba­PR.

Um levantamento realizado somando­se a casuística desses dois estabelecimentos revelou o diagnóstico de 234 casos

dessas neoplasias nas pálpebras de cães durante o período de 7 anos, dos quais 186 (79,5%) eram epiteliomas sebáceos, 44

(18,8%) adenomas sebáceos e quatro (1,7%) casos em que as duas proliferações celulares estavam presentes no mesmo

fragmento tecidual (Tabela 27.1).

Analisando estatisticamente o total de casos dessa amostra brasileira por meio do Teste Qui Quadrado, percebeu­se que

os epiteliomas sebáceos ocorrem significativamente em maior número (P < 0,05) do que adenomas sebáceos na pálpebra de

cães na casuística dos autores.

A média de idade dos animais desse estudo foi de 9,4 anos, e as dez raças mais acometidas foram Poodle (29 casos),

Cocker Spaniel Inglês (28), sem raça definida (28), Labrador Retriever (23), Shih Tzu (15), Lhasa Apso (15), Rottweiler

(10), Boxer (9), Golden Retriever (10) e Schnauzer (8).

Na população estudada, quanto às chances de ocorrer epiteliomas ou adenomas sebáceos não houve predileção nem

sexual, nem em relação ao lado acometido. Nesse levantamento recente, a prevalência sexual de animais afetados foi

exatamente 50% machos e 50% fêmeas, enquanto 51% encontravam­se no lado direito e 49% no esquerdo. Entretanto,

66,2% dos nódulos estavam presentes na pálpebra superior, enquanto 33,8% acometeram a pálpebra inferior. Esse

desequilíbrio talvez ocorra em virtude da maior quantidade de glândulas sebáceas presentes na pálpebra superior em relação

à inferior.

Figura 27.5 A. Imagem macroscópica de um adenoma sebáceo na pálpebra superior do olho esquerdo de uma cadela da

raça Poodle com 10 anos. B. Fotomicrografia de um adenoma sebáceo evidenciando a diferenciação e maturação sebácea

(HE, 200 ×). C. Imagem macroscópica de um epitelioma sebáceo na pálpebra superior do olho direito em um cão da raça

Shih Tzu, com 11 anos. D. Fotomicrografia de um epitelioma sebáceo pigmentado. É possível perceber a proliferação

neoplásica nodular composta por células epiteliais basaloides, área de diferenciação sebácea e a presença de pigmento

(HE, 200 ×). Imagens cedidas por Laboco­UFPR.

Tabela 27.1 Prevalência de epitelioma sebáceo, adenoma sebáceo e epitelioma e adenoma sebáceos no mesmo

fragmento nas pálpebras de cães.

Características Quantidade Porcentagem %total

Epitelioma sebáceo

Sem demaisalterações 46 24,73 19,7

Pigmentado 114 61,29 48,7

In〰㰊amado 13 6,99 5,6

Pigmentadoein〰㰊amado 13 6,99 5,6

Total 186 100 79,5

Adenoma sebáceo

Sem demaisalterações 33 75 14,1

Pigmentado 4 9,1 1,7

In〰㰊amado 6 13,6 2,6

Pigmentadoein〰㰊amado 1 2,3 0,4

Total 44 100 18,8

Epitelioma e adenoma

Sem demaisalterações 4 100 1,7

Pigmentado 0 0 0

In〰㰊amado 0 0 0

Pigmentadoein〰㰊amado 0 0 0

Total 4 100 1,7

Outras neoplasias palpebrais

Em menor frequência, neoplasias malignas como o adenocarcinoma e mastocitoma podem acometer a pálpebra do cão. O

mastocitoma certamente não é uma neoplasia comum de ser encontrada no bulbo ocular ou mesmo nos anexos oculares de

cães e gatos, segundo a experiência dos autores. Todavia, foi possível observar ocasionalmente o comprometimento da pele

das pálpebras em cães com um ou múltiplos mastocitomas, tipicamente de grau II.

Tratamento das neoplasias palpebrais

De modo geral, o tratamento das neoplasias palpebrais em cães e gatos consiste na remoção cirúrgica. A escolha da técnica

apropriada para cada caso é importante, levando­se sempre em consideração a localização, extensão e profundidade do

tumor. Deve­se, quando possível, realizar a excisão com margens cirúrgicas amplas e preferencialmente limpas (do ponto

de vista histológico) para evitar recidivas. Para as neoplasias muito extensas, criocirurgia, radioterapia e

eletroquimioterapia podem ser utilizadas como opções.

Neoplasias de conjuntiva e terceira pálpebra

Uma grande variedade de neoplasias que afetam a conjuntiva e/ou os tecidos anexos conjuntivais de animais domésticos já

foi relatada na literatura. O hemangioma e o hemangiossarcoma ocorrem em qualquer lugar da conjuntiva, encontrando­se

com maior frequência na terceira pálpebra ou na conjuntiva bulbar próxima ao limbo de cães. Nos gatos, a terceira pálpebra

também parece ser o local preferencial para a manifestação dessa neoplasia e o bulbo esquerdo curiosamente parece ser

mais acometido que o direito

21

(Figura 27.6 B e C). Macroscopicamente, essas neoplasias lembram os tumores vasculares

de outros tecidos e seu comportamento é o mesmo de outros hemangiomas. Uma excelente revisão sobre esse tipo de

neoplasia em gatos

21

foi realizada pelo grupo de Pirie et al. e outra em cães.

22 As variações malignas são mais raras nos

cães e nos gatos do que em seres humanos. Um caso curioso de coexistência de um carcinoma espinocelular e hemangioma

na superfície ocular de um gato foi recentemente relatado.

23 Ao que tudo indica, a radiação ultravioleta tem papel

importante como fator desencadeante das neoplasias vasculares.

21 Nos cães, as neoplasias vasculares se apresentam, em

geral, inicialmente como lesões pequenas e vermelhas na conjuntiva bulbar (Figura 27.6 A) ou na conjuntiva da terceira

pálpebra, mais comumente, próximas à margem superior. A ressecção cirúrgica dessas lesões com margens limpas costuma

ser curativa. Existem, no entanto, hemangiossarcomas de comportamento muito mais agressivo. Essas neoplasias mais

agressivas podem invadir de modo profundo os demais tecidos oculares, além da própria conjuntiva, expandindo­se sobre a

córnea e invadindo a esclera (Figura 27.6 B) e/ou apenas, mais raramente, sobre a superfície da córnea (Figura 27.6 C).

Nesses últimos casos, a excisão radical da conjuntiva, da esclera e de parte da córnea ou até mesmo a enucleação,

dependendo da profundidade da invasão, pode ser opção para um protocolo terapêutico bem­sucedido. Os cães que

apresentam essas neoplasias de origem vascular têm tipicamente entre 8 e 13 anos de idade. A média de idade para a

apresentação desse tumor em cães é de 8,5 anos. Nos gatos, a média de idade é de 10,6 anos.

21,22 Histologicamente, os

hemangiomas se caracterizam por acúmulos localizados de células endoteliais morfologicamente normais, criando inúmeros

espaços cavernosos (vasos), sem musculatura lisa ou pericito circundando­os. Já os hemangiossarcomas são localmente

invasivos com elevadíssima celularidade, hipercromasia, anisocariose e figuras mitóticas

22

(Figura 27.6 D).

Figura 27.6 Hemangiossarcoma em cães. A. Lesão inicial do hemangiossarcoma, na forma típica de pequena mancha

vermelha na conjuntiva bulbar, próxima ao limbo, no olho direito de um cão, sem raça definida, de 8 anos de idade. B.

Hemangiossarcoma corneoconjuntival expandindo­se principalmente sobre a córnea e invadindo a esclera dorsotemporal no

olho esquerdo (olho contralateral ao de A). C. Hemangiossarcoma corneano em um cão, sem raça definida, 5 anos.

Imagens cedidas por Laboco­UFPR. D. Fotomicrografia da massa corneana do mesmo paciente das Figuras A e B. É

possível notar a presença de proliferação difusa das células endoteliais com alto grau de atipia nuclear, anisocitose e

anisocariose. Algumas células demonstram relação núcleo/citoplasma elevada e percebe­se uma figura mitótica (seta).

Observa­se a formação de espaços vasculares preenchidos por hemácias. Diagnóstico: hemangiossarcoma. Magnificação:

400 ×. Coloração HE. Imagem cedida por Laboco­UFPR e Werner & Werner Patologia Animal Ltda.

Adicionalmente, há também relatos de mastocitomas acometendo a conjuntiva, incluindo a terceira pálpebra de gatos.

3,16

As neoplasias melanocíticas conjuntivais são relativamente mais incomuns. Os poucos casos já relatados não permitem

generalizações sobre o comportamento, mas ao que tudo indica se apresentam bem agressivos (alto grau de malignidade),

sendo, portanto, também chamados de melanomas malignos. Ocorrem mais em cães idosos (maiores de 10 anos de idade) e

têm como local de predileção a superfície bulbar da terceira pálpebra. Os melanocitomas da pele externa dos lábios (assim

como os palpebrais externos) são em geral benignos, ao passo que aqueles da membrana mucosa interna do lábio e os da

conjuntiva (palpebral, bulbar e da terceira pálpebra) são geralmente melanomas mais malignos. Histologicamente, as

neoplasias melanocíticas malignas da conjuntiva podem aparecer como massas tumorais bem pigmentadas, compostas por

melanócitos grandes e com pouca anisocariose ou atividade mitótica, mas com frequência se apresentam pobremente

melanocíticos (pouca melanina) e com marcada anisocariose e figuras mitóticas numerosas, o que pode confundir o

diagnóstico com outros tipos de neoplasias. A correlação direta entre o índice mitótico e a probabilidade de recorrência

local ou metástase não é clara.

24 Tanto a recorrência local como a expansão após a excisão são frequentes. Já foram,

inclusive, relatadas metástases pulmonares

4 e invasão do sistema linfático

24

relacionadas com essa neoplasia.

Os gatos raramente apresentam melanomas ou melanocitomas palpebrais ou conjuntivais. Os poucos melanomas conjuntivais relatados mostraram­se histológica e biologicamente muito malignos.

O adenocarcinoma da glândula lacrimal da terceira pálpebra é raro, ocorrendo de modo esporádico como um aumento de

volume nodular em cães muito velhos (média de idade de 11,5 anos). Essa doença neoplásica deve ser sempre considerada

quando há aparência clínica de prolapso e hipertrofia da glândula lacrimal da terceira pálpebra em cães (Figura 27.7). Os

adenocarcinomas da glândula lacrimal da terceira pálpebra são localmente infiltrativos. Há recorrência após tentativa de

ressecção, mas são em geral tratados com sucesso por meio da remoção completa da terceira pálpebra. Apenas nos casos

crônicos e negligenciados ocorrem metástases pulmonares após uma expansão local. Animais acometidos geralmente têm 8

anos de idade ou mais. Histologicamente, em geral, tais tumores têm características de carcinomas tubulares com

metaplasia escamosa abundantes. Não devem ser confundidos com a proeminência da glândula, que ocorre com o prolapso

da glândula da terceira pálpebra, mais comumente encontrada em animais jovens, ou com a adenite linfocítica intersticial.

4

Outra doença neoplásica na terceira pálpebra que pode ser confundida com o prolapso e hipertrofia da glândula lacrimal em

cães é o plasmocitoma.

25

Neoplasias corneanas e do limbo

As neoplasias corneanas em pequenos animais são, em sua grande maioria, extensão de tumores originados na conjuntiva,

como o hemangioma/hemangiossarcoma, e no limbo, como o melanocitoma. Por sua natureza avascular, raramente a córnea

é acometida por uma neoplasia primária, sendo a mais relatada na córnea o carcinoma de células escamosas, como o caso

17

citado anteriormente (ver Figura 27.4). Geralmente, essa condição está associada a irritações crônicas da superfície ocular,

como ceratoconjuntivite seca, entrópio, prolapso e hipertrofia da glândula da terceira pálpebra ou eversão da cartilagem da

terceira pálpebra. Curiosamente neoplasias vasculares também primárias já foram relatadas na córnea do cão e gato.

18

Outra curiosidade é o fato de que tanto as neoplasias melanocíticas da túnica fibrosa do bulbo ocular como as ceratites

crônicas pigmentares crônicas (pannus ou pano) localizadas no limbo esclerótico, em particular no canto temporal (lateral),

ocorrem com maior incidência em cães da raça Pastor­alemão.

26 O denominado melanoma ou melanocitoma epibulbar (ou

limbal) é também uma neoplasia quase sempre benigna, tanto histologicamente quanto em comportamento, sendo

normalmente encontrada no limbo. A neoplasia cresce como protuberância nodular e/ou esférica, podendo ou não haver

expansão nodular para a úvea ou para a câmara anterior. Muito embora o melanocitoma seja benigno, essa neoplasia pode

ser algumas vezes localmente agressiva e também destrutiva para o bulbo do olho. O diagnóstico diferencial inclui

proliferações não tumorais, alterações granulomatosas, outras neoplasias do limbo, estafilomas esclerais (Figura 27.8 A),

extensões externas de melanomas intraoculares e prolapsos de íris. A gonioscopia é recomendada para excluir a

possibilidade de neoplasia intraocular.

27

Figura 27.7 Cão da raça Cocker Spaniel Inglês, 13 anos de idade. É possível perceber a existência de uma massa tecidual

na glândula da terceira pálpebra (asterisco preto). Além disso, pode­se verificar o aumento de volume localizado na face

interna da terceira pálpebra (prega semilunar da conjuntiva). Após exame histopatológico da massa excisada, confirmou­se

o diagnóstico de adenocarcinoma da glândula da terceira pálpebra. Imagem cedida por Aline Adriana Bolzan.

Nos gatos, os melanomas do limbo, que têm aparência idêntica à dos cães, são vistos ocasionalmente e em sua maioria

considerados benignos, bem circunscritos e de crescimento lento.

28

Figura 27.8 A. Estafiloma escleral dorsal (setas) em um gato. Importante diagnóstico diferencial do melanocitoma

epibulbar. B. Alterações de coloração de íris não neoplásica típica da senilidade na íris de uma gata, sem raça definida, 12

anos. Observam­se manchas escuras (seta vermelha) e atrofia na face anterior da íris (seta azul). Imagens cedidas por

Laboco­UFPR.

Tratamento das neoplasias conjuntivais, de terceira pálpebra, da córnea e do limbo

O tratamento das neoplasias corneanas/epibulbares de modo geral consiste na excisão cirúrgica, preferencialmente com o

auxílio de microscópico cirúrgico. A excisão cirúrgica combinada com crioterapia adjuvante aparenta ser a forma de

tratamento mais efetiva para melanomas conjuntivais e de terceira pálpebra.

29 É importante nesses casos realizar avaliação

pré­operatória na busca por doença metastática (linfonodos regionais, cavidades abdominal e torácica). Os melanomas

epibulbares de crescimento progressivo podem ser controlados por meio de corneoesclerectomia parcial ou total. Quando a

esclerectomia for parcial, pode­se efetuar enxerto conjuntival para a correção de falhas de continuidade, e, no caso de

corneoesclerectomia total, há a possibilidade de reparação por meio de enxertos corneoesclerais homólogos

30

, de terceira

pálpebra

31 ou mesmo sintéticos.

32 Outras terapias relatadas também incluem crioterapia, fotoablação por laser e irradiaçãoβ.

24,33

Principais neoplasias intraoculares

As neoplasias intraoculares têm origem na túnica vascular (íris, corpo ciliar ou coroide) ou na túnica nervosa (retina), e são

importantes diagnósticos diferenciais quando o animal apresenta glaucoma, uveíte e hemorragia intraocular.

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Neoplasias melanocíticas

Os crescimentos tumorais de origem melanocítica são as neoplasias intraoculares primárias mais comuns em cães e

gatos.

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