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Os detalhes para condução da CAAF podem ser encontrados em uma ampla variedade de citações bibliográficas. Em

geral, como já referido, agulhas de 22 a 25 G são utilizadas. Para lesões densamente fibrosas, bem como altamente

vascularizadas, as agulhas de calibres menores (25 G) são mais adequadas. Já para lesões cutâneas muito pequenas, as

agulhas de calibres entre 26 e 27 G são mais desejáveis. À exceção de lesões situadas mais profundamente, o uso de

anestesia local é opcional. É importante, sempre, a imediata avaliação da representatividade do material aspirado enquanto

o paciente permanece no ambiente em que se conduz a citologia aspirativa, procedimento que minimiza a possibilidade de

amostras inadequadas e diminui a necessidade de repetição de biopsias aspirativas.

No que diz respeito à preparação e coloração dos espécimes, recomenda­se o uso de fixadores úmidos e esfregaços

secados ao ar. Preparações secas ao ar são colorizadas com corantes do tipo Romanowsky, como Wright­Giemsa. A

coloração ultrarrápida de Papanicolaou tem sido usada com muito sucesso para coloração rápida de esfregaços secos ao ar.

Em nosso meio, também, a coloração habitualmente utilizada em citologia do sangue, idealizada por Rosenfeld (metanol,

May­Grünwald e Giemsa [MGG]), apresenta resultados surpreendentemente satisfatórios em preparações citoscópicas

obtidas por CAAF e secas ao ar.

A fixação úmida é obtida por imediata imersão das extensões em etanol a 95% ou por vaporização da preparação e

subsequente imersão no referido álcool etílico. Tais preparações fixadas em álcool são coradas em Papanicolaou ou

hematoxilina­eosina. É prudente lembrar que preparações excessivamente espessas e fragmentos de tecidos coram

superficialmente e trazem poucas informações úteis. No caso de fragmentos de tecidos, melhor será seccioná­los em

porções menores e depositá­los de modo delicado em formalina para procedimento histotécnico posterior.

Na questão do aproveitamento do material obtido por citologia aspirativa para o propósito de exames complementares

ulteriores, cabe lembrar que as técnicas padronizadas de histoquímica e imunocitoquímica podem ser aplicadas em material

obtido por citocentrifugação, blocos de células embebidos em parafina e, até mesmo, a partir de esfregaços sobre lâminas.

Evidentemente, no caso de técnicas de imunocitoquímica, os anticorpos, em geral, apresentam melhor imunomarcação em

material citocentrifugado e blocos de células, comparados aos esfregaços. Além do mais, os blocos de células permitem

imunomarcação com um painel de anticorpos muito mais amplo. Todavia, a imunocoloração de esfregaços sobre lâminas

apresenta com frequência coloração pobre das células e fundo da preparação excessivamente corado. Outros estudos

complementares e ulteriores, incluindo cultivo microbiológico, microscopia eletrônica, citometria de fluxo, avaliação do

equilíbrio de receptores estrogênicos/progestogênicos, citogenética, reação em cadeia de polimerase (PCR, polymerase

chain reaction), hibridização fluorescente in situ (FISH, fluorescent in situ hybridization) e outras técnicas, podem também

ser conduzidos com material obtido por CAAF. Tais técnicas complementares devem ser aplicadas de modo seletivo, e se

faz mister que tanto os citopatologistas quanto os citotecnistas estejam familiarizados com os requerimentos básicos e

específicos para cada um desses procedimentos técnicos.

No que concerne à interpretação de uma preparação citoscópica obtida a partir da CAAF, objetivamente devem ser

considerados aspectos relacionados com a densidade celular, a morfologia cariocitoplasmática, a interação entre as células,

a arquitetura tecidual (microbiopsia) e a matriz extracelular, tudo integrado aos achados clínicos e de imagens. A

interpretação deve conduzir ao estabelecimento de um diagnóstico específico (p. ex., carcinoma de células escamosas), um

diagnóstico diferencial (p. ex., neoplasia folicular da tireoide: adenoma­carcinoma), ou um diagnóstico descritivo, no qual

são ressaltados os componentes do processo patológico (p. ex., células apócrinas metaplásicas e histiócitos compatíveis

com alteração fibrocística). Também se pode excluir um diagnóstico clínico específico (p. ex., uma preparação citoscópica

que mostre celularidade adrenocortical benigna e exclua uma metástase em um paciente com tumor maligno do pulmão). O

objetivo da CAAF é fornecer ao clínico, ao cirurgião ou, especificamente, ao oncologista informações sobre a natureza do

tecido amostrado, essencialmente para que se possa firmar o diagnóstico seguro e apropriado e tomar as decisões

terapêuticas mais acertadas e com riscos mínimos ao paciente.

Finalmente, a comunicação (laudo) dos resultados citopatológicos deve ser precisa e clinicamente relevante, devendo ser

traduzida por terminologia inteligível para o corpo clínico e encadeada dentro de uma sequência lógica. A habilidade para

transcrever de forma clara e concisa a gama de achados citopatológicos se revela crucial. Além do mais, os resultados de

uma citologia aspirativa, por agulha fina, devem ser lidos e interpretados posteriormente por diferentes clínicos, que muitas

das vezes não estão familiarizados com as técnicas de obtenção das referidas preparações; portanto, torna­se condição

imperativa que o laudo se apresente na forma documental, subscrito pelo citopatologista responsável pelo exame e pela

interpretação dos achados citoscópicos.

Os programas de controle de qualidade e melhoria da qualidade constituem uma parte essencial na prática da CAAF e

subsequente diagnóstico citopatológico. Cada laboratório deve documentar seu desempenho e a qualidade de seus

resultados, comparando­os com aqueles relatados na literatura. Nesse intento, o arquivo e o estudo de casos clínicos

considerando­se correlação dos achados citológicos/histopatológicos revelam­se como uma das melhores ferramentas de

avaliação do serviço diagnóstico. Certamente, as medidas de controle de qualidade são muito facilitadas pela automatização

do laboratório. Arquivos de resultados anatomopatológicos, histopatológicos e citopatológicos devem ser levantados em

intervalos regulares de tempo e, em alguns casos, a expedição de um comunicado aos usuários do serviço pode ser feita

com o fito de atualização e seguimento das informações. Discrepâncias nos achados citopatológicos/histopatológicos são

excelentes fontes para uma atitude de autoavaliação, melhoria na qualidade dos serviços diagnósticos e minimização de

futuros erros.

Análise e interpretação de preparações citoscópicas

A interpretação de preparações citoscópicas frequentemente permite o estabelecimento do diagnóstico, a identificação da

patologia (neoplasia ou processo inflamatório), o direcionamento terapêutico e o estabelecimento do prognóstico.

Requisitos preliminares

Para facilitar as discussões subsequentes, alguns dos termos utilizados no texto são brevemente discutidos a seguir.

• Anatomia: refere­se ao ramo do conhecimento que se preocupa com a forma, a disposição e a estrutura dos órgãos que

compõem o organismo

• Citologia: estudo das células individuais sem considerar a arquitetura dos tecidos e órgãos de origem

• Histologia: estuda as células e o material extracelular que constituem os tecidos do corpo

• Histopatologia: resposta das células e dos tecidos às lesões associadas aos processos patológicos

• Citopatologia: estudo das alterações morfológicas em células isoladas obtidas por raspado, descamação natural ou

aspiração. O diagnóstico citológico baseia­se nas alterações individuais sem diferenciar alterações da arquitetura tecidual

• Hipertrofia: aumento no tamanho da célula e/ou atividade funcional em resposta a um estímulo

• Hiperplasia: aumento no número de células não neoplásicas pela elevação da atividade mitótica em resposta a estímulos,

como distúrbios hormonais ou lesão tecidual. As células apresentam uniformidade no tamanho e na morfologia do núcleo

e do nucléolo e, em geral, o volume citoplasmático é maior do que aquele do núcleo. Entre os exemplos de hiperplasia,

incluem­se proliferações nodulares no parênquima da próstata, no fígado e no pâncreas. Se a célula é capaz de realizar

divisão mitótica, a hiperplasia ocorrerá paralelamente à hipertrofia

• Neoplasia: elevação no crescimento e na multiplicação celular de forma não controlada

• Metaplasia: processo reversível no qual um tipo celular maduro é substituído por outro tipo celular

• Displasia: refere­se a alterações celulares reversíveis, irregulares, atípicas e proliferativas em resposta à irritação ou

inflamação

• Discrasia: elevação ou redução no número de um ou mais componentes celulares ou estádios de maturação dos tecidos,

fora da proporção

• Anaplasia: falta de diferenciação de células teciduais. Quanto menor o grau de diferenciação do tumor, maiores a

anaplasia e o potencial de malignidade.

Objetivo do exame citoscópico

O principal objetivo do exame e da interpretação das preparações citoscópicas é a diferenciação entre uma reação

inflamatória e um processo neoplásico. Amostras que contêm somente células inflamatórias ou células inflamatórias e

poucas células teciduais displásicas indicam lesão inflamatória. Por sua vez, amostras que contêm apenas células teciduais

indicam processo neoplásico ou hiperplásico. A mistura de células inflamatórias e células teciduais atípicas sugere

neoplasia com inflamação secundária ou inflamação com displasia tecidual secundária.

A natureza da reação inflamatória é estabelecida com base na quantificação e na proporcionalidade das diferentes células

inflamatórias presentes na preparação citoscópica. Os tipos de células inflamatórias incluem neutrófilos, eosinófilos,

macrófagos teciduais, macrófagos epitelioides e células inflamatórias gigantes. Poucos mastócitos podem estar presentes

durante algumas respostas inflamatórias associadas à alergia. O processo inflamatório pode ser classificado por meio do

uso da terminologia de acordo com a duração (agudo, subagudo, crônico ativo e crônico) ou com o tipo de processo

inflamatório (purulento ou supurativo, piogranulomatoso, granulomatoso e reação de hipersensibilidade eosinofílica).

O caráter neoplásico é identificado de acordo com as características citomorfológicas e pode apresentar evolução benigna

ou maligna. As células benignas apresentam uniformidade de tamanho, da relação núcleo­citoplasma e das características

nucleares. As células malignas apresentam com frequência três ou mais critérios de imaturidade ou anormalidade celular,

que devem ser identificados antes que se defina o diagnóstico de malignidade.

Colheita de material

É de fundamental importância que o clínico veterinário tenha o conhecimento das técnicas de preparações citoscópicas, uma

vez que, em muitas ocasiões, terá a responsabilidade de realizar a colheita da amostra, preparar as lâminas e, às vezes, até

mesmo corá­las. Uma técnica de colheita inadequada ou realizada de forma ineficiente pode dificultar muito a definição do

caso, tendo em vista que a amostra colhida deve, necessariamente, incluir células que representem a lesão em questão.

Nesse contexto, a colheita do material torna­se o passo mais importante na rotina da citologia diagnóstica.

Citologia por agulha fina

É o método de eleição para obtenção de células a partir de lesões nodulares presentes em diferentes localidades da

superfície corpórea. Tem como vantagens a não contaminação das amostras e a obtenção de amostras representativas do

material. Em geral, utilizam­se agulhas de calibres variáveis (25­7, 25­8) e seringas de 5 a 20 mL. Quanto mais macio for

o tecido a ser aspirado, menores serão a agulha e a seringa utilizadas.

A citologia por agulha fina pode ser realizada pelas técnicas aspirativa e não aspirativa (por capilaridade). Em ambas,

realizam­se a contenção física adequada do paciente e a antissepsia do local a ser puncionado. Em muitos casos de suspeita

de neoplasias, ou de processos inflamatórios crônicos, não há necessidade de sedação, pois, com frequência, os pacientes

não demonstram qualquer incômodo durante ou após a CAAF.

Comparando­se as técnicas aspirativa e não aspirativa para obtenção de amostras celulares, tem sido verificado que a

aspirativa é superior à não aspirativa com relação à conclusão do diagnóstico citopatológico.

Técnica aspirativa

Para a realização desse procedimento, deve­se imobilizar firmemente a massa com uma das mãos e, então, introduzir a

agulha acoplada a uma seringa com a outra mão (Figura 5.1 A). Uma pressão negativa é produzida no interior da seringa,

mantendo­se essa pressão enquanto se promovem com a agulha movimentos de vaivém na massa e em diversos planos

(Figura 5.1 B). Pode ser utilizado um citoaspirador acoplado à seringa para facilitar a colheita do material (Figura 5.2).

Após essa manobra, o êmbolo da seringa deve ser solto, desfazendo­se a pressão negativa e removendo­se a agulha

acoplada à seringa da referida massa (Figuras 5.1 C e 5.3).

Para o preparo da lâmina, a agulha deve ser desacoplada da seringa, recuando­se o êmbolo desta e acoplando­se

novamente a agulha à seringa, com o bisel da agulha voltado para a lâmina de microscopia (Figura 5.1 D). Em seguida,

pressiona­se o êmbolo para que o conteúdo da agulha seja depositado na porção central ou no terço distal da lâmina, e

posterior distensão das células. O ideal é fazer várias colheitas, de diferentes regiões da massa e, para cada uma,

confeccionar uma lâmina.

Essa técnica é indicada para lesões que produzem baixa celularidade, tendo como desvantagem a possibilidade de haver

contaminação sanguínea.

Técnica não aspirativa

Similar à técnica aspirativa, exceto pelo fato de não se aplicar pressão negativa durante a colheita. A massa a ser

puncionada é contida entre o dedo polegar e o indicador de uma das mãos enquanto se introduz uma agulha com a outra

mão, em movimentos de vaivém multidirecionados, colhendo­se as células por capilaridade (Figuras 5.4 e 5.5).

Os procedimentos para a preparação da lâmina são os mesmos realizados na técnica aspirativa. Esta é indicada para

colheita de células a partir de lesões de alta vascularização, pois a contaminação sanguínea é menor e tem como vantagem o

fato de fornecer material de melhor qualidade que a técnica aspirativa porque são menores as chances de ruptura das

células. Porém tal técnica revela­se inviável em lesões de natureza cística ou fibrosa.

Citologia por decalque ﴾imprints﴿

Tal modalidade baseia­se na obtenção de células superficiais de uma lesão ou da superfície de corte de um órgão, por meio

do contato dessa superfície com a de uma lâmina de microscopia (Figura 5.6). Excessos de fluido e sangue devem ser

removidos da lesão com gaze ou papel­toalha antes da obtenção dos decalques em lâminas.

Quando a superfície do tecido tem aparência pálida, realiza­se escarificação prévia com um bisturi e, então, faz­se

contato do tecido com a lâmina.

É indicada para colheita de material de lesões ulceradas ou durante cirurgias e necropsias para confirmação diagnóstica

de suspeitas levantadas no exame macroscópico. Também pode ser feita em amostras coletadas para biopsia antes da

fixação em formol. É uma técnica de fácil realização, mas o material apresenta menor celularidade que os raspados, além

de maior contaminação, tanto bacteriana quanto celular, em comparação às técnicas de punção por agulha fina.

Figura 5.1 Técnica de colheita de amostra para citologia aspirativa por agulha fina. A. Fixar firmemente a massa entre os

dedos e introduzir a agulha acoplada à seringa. B. Produzir uma pressão negativa no interior da seringa, mantendo­a

enquanto se promove com a agulha movimentos de vaivém na massa e em diversos planos. C. Soltar o êmbolo da seringa,

desfazendo a pressão negativa, e retirar a seringa e a agulha da lesão. D. Desacoplar a agulha da seringa, preencher a

seringa com ar e acoplar novamente a agulha, depositando o material sobre a lâmina.

Figura 5.2 Citoaspirador.

Figura 5.3 Colheita por citologia aspirativa com agulha fina de nódulo cutâneo em um cão com a ajuda do citoaspirador.

Figura 5.4 Técnica de colheita para citologia não aspirativa com agulha fina (capilaridade): a massa a ser puncionada é

contida entre o dedo polegar e o indicador de uma das mãos enquanto se introduz uma agulha com a outra mão, em

movimentos de vaivém multidirecionados.

Figura 5.5 Colheita pela técnica de capilaridade em nódulo cutâneo em um cão.

Figura 5.6 Técnica de colheita por imprint.

Citologia esfoliativa ﴾raspados﴿

Consiste na remoção das células mais superficiais de uma lesão por meio de esfoliação (raspagem) com uma lâmina de

bisturi. É indicada para a avaliação do processo de maturação de epitélios, para a caracterização de tipos de exsudatos ou

para a visualização de agentes infecciosos ou mesmo parasitários. Nos casos de imprints com quantidade insuficiente de

células, pode­se escarificar a superfície do tecido com uma lâmina de bisturi, depositando­se o conteúdo em uma lâmina de

microscopia. Esse procedimento tem como desvantagem o fato de limitar­se às lesões superficiais, restringindo­se, às

vezes, à revelação de infecções bacterianas secundárias e/ou de tecidos displásicos consequentes de processos

inflamatórios.

Swab

Técnica utilizada quando imprints, raspados ou aspirados, não podem ser realizados, como nos casos de fístulas e condutos

nasais, vaginais e otológicos. Após a colheita do material com um swab umedecido com solução salina, ambos estéreis, a

amostra é delicadamente depositada na lâmina, tomando­se o cuidado de não friccioná­la sobre a superfície da referida

lâmina para não gerar danos celulares. Deve­se evitar o uso de géis lubrificantes, pois mascaram as células, dificultando

sua classificação.

Fluidos e lavados

As amostras de fluidos devem ser colhidas em ácido etilenodiaminotetracético (EDTA, ethylenediaminetetraacetic acid)

para evitar a formação de coágulos e auxiliar a preservação da morfologia celular até o momento do exame. Conforme a

natureza da amostra, diversas técnicas podem ser utilizadas na confecção das lâminas. Dessa forma, amostras ricas em

células devem ser centrifugadas e é preciso confeccionar a preparação sobre a lâmina, a partir de uma gota do sedimento,

por meio da técnica de esfregaço sanguíneo ou linear. As amostras de baixa celularidade podem ser misturadas com o soro

do mesmo animal, realizando­se a centrifugação e, a partir do sedimento, confeccionando­se as preparações citoscópicas,

ou utilizando­se da técnica de citocentrifugação.

Preparo do esfregaço

Diversos métodos podem ser utilizados no preparo de esfregaços com vista à avaliação citoscópica de massas sólidas,

inclusive linfonodos. A experiência do técnico que realizará a preparação e as características do material coletado

influenciam diretamente na escolha da técnica.

Alguns cuidados devem ser tomados no momento da confecção do esfregaço, como:

• Distribuir bem o material sobre a lâmina para facilitar o exame e a interpretação

• Realizar os esfregaços antes da coagulação da amostra, tendo em vista que, se houver coagulação, além das células não

se espalharem suficientemente, poderão ficar distorcidas e mal coradas, dificultando a avaliação citoscópica

• Aplicar pouca pressão à distensão das células sobre a lâmina para evitar sua ruptura

• Considerar o ângulo de inclinação da lâmina extensora do esfregaço.

Um diagnóstico conclusivo será muito mais fácil de ser obtido se for encaminhada ao citopatologista uma grande

quantidade de esfregaços. Se possível, quatro a seis preparações em lâminas devem ser confeccionadas, com colheitas de

vários locais da massa. Se a amostra colhida for espessa, deve ser feita mais de uma lâmina. Quando houver mais de uma

massa, deve­se utilizar seringas e agulhas novas para cada massa.

Procedimento para a técnica da compressão ﴾squash﴿

Nessa técnica, deposita­se pequena quantidade de material na superfície de uma lâmina, aproximadamente a 1 cm da

extremidade (Figura 5.7 A). Outra lâmina limpa é colocada sobre a amostra (Figura 5.7 B). A amostra é comprimida

delicadamente, mas de maneira firme, entre as duas lâminas. Com um movimento contínuo, a lâmina extensora da amostra

é deslizada ao longo da superfície da lâmina que contém o material, em sentido contrário ao da extremidade (Figura 5.7 C).

O objetivo é distribuir o material de uma área espessa multicelular para um esfregaço de camada única, separando as

células individualmente e permitindo a penetração do corante, de modo a otimizar o exame microscópico das células

(Figura 5.7 D). Quando bem realizada, a técnica de squash produz preparações citológicas de excelente qualidade. Todavia,

quando o técnico não tem a devida prática, muitas células se rompem, dificultando a interpretação do exame citológico.

Preparação pela técnica de esfregaço sanguíneo

Após depositar­se o material sobre uma lâmina de vidro limpa e desengordurada, coloca­se outra lâmina na frente do

material em um ângulo de 45° (Figura 5.8 A), recuando­a ligeiramente até o material se espalhar por capilaridade sobre a

extremidade da lâmina (Figura 5.8 B). Com um movimento uniforme para a frente, faz­se com que a lâmina extensora

deslize sobre a outra (Figura 5.8 C e D), arrastando atrás de si o material, que se espalha em uma fina camada, formando

uma cauda ao final do esfregaço. Essa técnica é utilizada nos aspirados linfáticos ou quando o material colhido é

semissólido ou apresenta células sanguíneas suspensas em uma matriz fluídica.

Combinação de técnicas

Nesse procedimento, deve­se depositar o aspirado no meio da lâmina. Divide­se, imaginariamente, o material em três

partes. No terço inicial do material, o esfregaço é preparado pela técnica de squash. No terço distal, o esfregaço é realizado

como um esfregaço sanguíneo, e o terço médio do aspirado permanece intacto.

Técnica de esfregaço linear

Uma gota de amostra é colocada sobre uma lâmina de vidro, com técnica semelhante à do esfregaço sanguíneo. A diferença

é que a lâmina extensora é levantada a um quarto do final da lâmina que contém a amostra, não havendo a formação de uma

cauda, mas sim de uma linha com muitas células concentradas (Figura 5.9 A a D). Esse procedimento é bastante utilizado

no preparo de esfregaços de amostras de fluidos de baixa celularidade.

Figura 5.7 Técnica de compressão ou squash. A. Parte da amostra é colocada sobre uma lâmina de vidro e outra lâmina é

colocada sobre o material. B. A amostra é comprimida delicadamente, mas de maneira firme, entre as duas lâminas. C.

Com um movimento contínuo, desliza­se a lâmina que recobre a amostra ao longo da superfície da lâmina que contém o

material. D. Um esfregaço de camada única é produzido.

Figura 5.8 Técnica de esfregaço sanguíneo. A. Uma gota da amostra é colocada sobre uma lâmina de vidro e outra lâmina

extensora é colocada na frente do material em um ângulo de 45°, fazendo­se um ligeiro movimento para trás. B. O material

se distribui na extremidade da lâmina extensora. C. Com um movimento uniforme para a frente, faz­se com que uma

lâmina deslize sobre a outra. D. A lâmina extensora arrasta atrás de si o material, que se espalha em uma fina camada,

formando uma cauda no final do esfregaço.

Figura 5.9 Técnica de esfregaço linear. A. Uma gota da amostra é colocada em uma lâmina de vidro e outra lâmina

extensora é colocada na frente do material em um ângulo de 45°, fazendo­se um ligeiro movimento para trás. B. O material

se distribui uniformemente na extremidade da lâmina extensora. C. Com um movimento uniforme para a frente, faz­se uma

lâmina deslizar sobre a outra. D. No quarto final, levanta­se a lâmina, formando uma linha com muitas células

concentradas.

Coloração das amostras

Após a realização dos esfregaços, as preparações citoscópicas devem ser fixadas, estabelecendo­se a escolha do fixador de

acordo com a natureza do corante, ou seja, corantes como Papanicolaou e hematoxilina­eosina requerem fixação úmida

imediata, à base de álcool, ao passo que corantes como Giemsa e Romanowsky exigem secagem das lâminas ao ar para

posterior fixação em metanol. Nunca se deve soprar a lâmina, pois pode ocorrer contaminação por células da mucosa e/ou

por bactérias da flora oral. Quando não for possível a coloração imediata, fixa­se o material por 5 a 10 min em metanol,

evitando assim a degeneração celular antes de se encaminhar ao laboratório de patologia clínica. Não é aconselhável deixar

o material sobre a bancada de trabalho, pois poeira, insetos e alguns acidentes (como gotas de água, álcool etc.) podem

danificar o material. Deve­se também manusear a lâmina somente de um lado, o oposto de onde se encontra o material,

pois impressões digitais e talco de luvas podem criar artefatos, dificultando o diagnóstico.

Coloração de Papanicolaou

A técnica de coloração de Papanicolaou é muito utilizada em colposcopia, em particular nos laboratórios dedicados ao

exame do sistema genital feminino. Essa coloração acentua detalhes nucleares, sendo valiosa na detecção de alterações

morfológicas iniciais indicativas de displasia e neoplasia. Não se utiliza na rotina em Medicina Veterinária em razão das

múltiplas fases que envolvem o procedimento de coloração e suas limita­ções na avaliação de processos inflamatórios.

Coloração com novo azul de metileno

O novo azul de metileno é um corante básico temporário, utilizado para exame imediato das preparações. É depositado

diretamente sobre o esfregaço e coberto com uma lamínula. O excesso de corante pode ser removido com a ajuda de um

papel absorvente. Os eritrócitos e os grânulos de eosinófilos não se coram e os eritrócitos aparecem microscopicamente

como áreas circulares translucentes. Como não há fixação pelo álcool, os lipídios associados a lipomas podem ser

facilmente reconhecidos. É muito útil na identificação de células nucleadas, bactérias (tanto as gram­positivas quanto as

gram­negativas se coram em azul­escuro), fungos e leveduras.

Coloração com corantes do tipo Romanowsky

A técnica de coloração Romanowsky é utilizada com frequência na rotina porque envolve procedimentos rápidos e fáceis.

Tais corantes são obtidos a partir da combinação de corantes básicos e ácidos dissolvidos em álcool metílico. Esses

corantes policromáticos conferem as propriedades tintoriais basofílicas e eosinofílicas, observadas nos esfregaços

sanguíneos. São ótimos corantes de microrganismos e citoplasma.

A coloração de núcleos e nucléolos é suficiente para diferenciar neoplasias de processos inflamatórios e para avaliar as

células neoplásicas conforme os critérios de malignidade.

O corante de Wright é amplamente utilizado na maioria dos laboratórios de patologia médica e veterinária porque

propicia uma boa coloração de esfregaços sanguíneos, de medula óssea e preparações de outros tecidos. Nessa coloração,

produzem­se três tons de cor. Hemácias apresentam­se eosinofílicas, adquirindo coloração vermelho­alaranjada. O ácido

ribonucleico (RNA, ribonucleic acid) e o citoplasma, por terem características basofílicas, se coram em azul. O ácido

desoxirribonucleico (DNA, deoxyribonucleic acid), os grânulos de mastócitos e os grânulos de basófilos são corados de

púrpura, assim como o material rico em mucopolissacarídeos, como saliva, fluido sinovial e muco.

Outros corantes do tipo Romanowsky, utilizados sozinhos ou em várias combinações, incluem Leishman, MayGrünwald e Giemsa (MGG) e panóptico. Este último é um corante policromático, de uso comum na rotina de patologia

clínica veterinária em razão da praticidade e rapidez na coloração. Não coram grânulos de mastócitos; nesse caso, é

indicada outra técnica de coloração, como o novo azul de metileno ou o corante de Giemsa.

Os problemas de coloração das preparações citoscópicas podem decorrer da exposição por tempo excessivo ou

insuficiente das referidas preparações citoscópicas aos corantes, ou da descoloração pelo excesso de uso ou manuseio

incorreto das supracitadas preparações. O tempo de coloração varia de acordo com a espessura da preparação citoscópica e

o tempo de estocagem do corante. Ao término da coloração, a preparação deve ser imediatamente lavada com água corrente

fria, durante 20 s, para remoção do excesso de corante, e, ato contínuo, deve ser submetida à secagem ao ar.

Critérios de malignidade

A avaliação do potencial de malignidade de uma população celular gira em torno do seu grau de diferenciação, de seu índice

mitótico e da atipia celular. Os critérios de malignidade são divididos em gerais e nucleares (Figura 5.10), sendo os

nucleares mais confiáveis no diagnóstico de uma neoplasia, já que tais critérios ocorrem, com menor frequência, nos casos

de displasias induzidas por inflamações.

Critérios gerais

Anisocitose e macrocitose

Anisocitose é um critério que define uma população de células de diferentes tamanhos, e macrocitose define população de

células extremamente grandes. Um pequeno grau de anisocitose é permitido na maioria dos tecidos, mas o achado de

células muitas vezes maiores que outras, dentro da mesma população celular, é considerado significativo. Não há padrão

para definição de um quadro de macrocitose, encontrando­se simplesmente células maiores do que o normal para certo

grupo celular de mesma origem, sendo necessária certa experiência do patologista para a avaliação desse critério (Figura

5.11). Ambos são achados celulares atípicos, mas há exceções, como em amostras citológicas de linfonodos normais ou

reativos, em razão da presença de vários tipos celulares, como linfócitos maduros, linfoblastos e plasmócitos.

Contrariamente, o linfossarcoma mostra população monótona e homogênea de linfoblastos.

Figura 5.10 Representação esquemática dos critérios gerais e nucleares de malignidade.

Hipercelularidade

Tumores malignos tendem a esfoliar mais facilmente, mesmo quando originários de tecidos que não esfoliam, como

tumores primários ósseos, osteossarcoma e condrossarcoma. As células de tumores malignos em geral não se diferenciam

a ponto de desenvolverem receptores celulares ou produzirem matriz extracelular que confira adesão entre as células de um

tecido, esfoliando então com facilidade no que se refere às punções aspirativas. Apesar de ser um critério significativo, a

hipercelularidade deve ser interpretada com cautela, já que em preparações citológicas de lesões inflamatórias, tecido

linfoide, ou outros tecidos, que esfoliam grande número de células, essa característica pode não ser considerada maligna.

Pleomorfismo

Esse termo refere­se à variabilidade na forma das células. Se vários tipos celulares estão presentes em uma preparação

citoscópica, espera­se certo pleomorfismo. Além disso, pode haver variabilidade de forma em células do mesmo tecido,

como células epiteliais de transição do trato urinário, células epiteliais escamosas em amostras citológicas de origem

cutânea ou vaginal e, ainda, em tecidos linfoides. Porém, pleomorfismo acentuado em células de mesma origem pode

contribuir para um diagnóstico de lesão maligna.

Figura 5.11 Mastócito canino. Punção para biopsia aspirativa de nódulo cutâneo. Notam­se mastócitos bem diferenciados,

com quantidade variável de grânulos intracitoplasmáticos. Os detalhes nucleares são obscuros pela avidez dos grânulos

citoplasmáticos com relação ao corante. Objetiva de 100 ×.

Critérios nucleares de malignidade

Anisocariose e macrocariose

São termos designados para caracterizar variação do tamanho do núcleo e núcleo excessivamente grande, respectivamente.

Núcleos com tamanhos várias vezes maiores que os de outros núcleos em uma mesma população celular ou em uma única

célula multinucleada representam achados consistentes de anisocariose e ocorrem com frequência em neoplasias epiteliais,

como nos carcinomas. Quanto maior o tamanho do núcleo, maior seu potencial de malignidade, principalmente se acima de

10 μm de diâmetro. Em preparações citoscópicas de células epiteliais escamosas, observa­se anisocariose em condições

normais, pois durante a maturação dessa linhagem celular o núcleo diminui, torna­se picnótico e desaparece.

Multinucleação

Multinucleação em células que não são originalmente multinucleadas é um sinal de malignidade e pode ocorrer em

neoplasias malignas de qualquer tipo celular, demonstrando o resultado de divisão nuclear não acompanhada de divisão

celular. Ademais, a multinucleação torna­se mais importante se um achado de anisocariose na célula multinucleada é

observado simultaneamente. Em geral, o mesmo número de núcleos é encontrado nas células, mas a observação de

números ímpares de núcleos é indício de divisão nuclear atípica e um achado importante a se considerar. Células não

neoplásicas, com capacidade de multinucleação, podem estar presentes em preparações citoscópicas, especialmente

macrófagos (células inflamatórias gigantes), osteoclastos e megacariócitos.

Relação núcleo-citoplasma anormal

Essa relação refere­se à área ocupada por núcleo e citoplasma de uma célula. Dessa forma, uma relação núcleo­citoplasma

(N/C) baixa indica que a célula tem núcleo relativamente pequeno comparado ao vasto citoplasma e, por sua vez, a relação

N/C elevada indica que o núcleo ocupa quase todo o citoplasma. Esse critério é mais fidedigno para células grandes, como

as mesenquimais e epiteliais, cuja relação N/C elevada sugere malignidade, pois essa condição caracteriza células pouco

diferenciadas. As células linfoides normalmente apresentam relação N/C elevada. Alguns autores relatam que células não

linfoides normais apresentam relação N/C de 1:3 a 1:8. No caso de tais células, relações N/C de 1:1 e 1:2 sugerem

malignidade.

Nucléolo anormal

Alterações em nucléolos de algumas células podem ser os indicadores mais flagrantes de malignidade de uma população

celular, ressaltando­se os macronucléolos, os nucléolos angulares e a anisonucleoliose. No caso de macronucléolos, são

sugestivos de malignidade quando maiores que 5 μm de diâmetro. É possível utilizar o tamanho dos eritrócitos para avaliar

o tamanho dos nucléolos. Em condições normais, os eritrócitos de cães variam de 7 a 8 μm, ao passo que os dos gatos

variam de 5 a 6 μm de diâmetro. Nucléolos angulares são os que apresentam formas atípicas, como fusiformes,

pleomórficos, tangenciando o envelope nuclear e diferentes dos arredondados ou ovais encontrados em células normais. A

anisonucleoliose, variação do tamanho dos nucléolos, é um critério de extrema importância, principalmente quando

observada em uma mesma célula (Figuras 5.12 e 5.13).

Mitoses anormais

Com exceção dos tecidos linfoide e hematopoético, a maioria das amostras de tecidos normais não mostra figuras mitóticas

frequentes, tornando o encontro de muitas mitoses e de figuras mitóticas aberrantes uma forte evidência de malignidade

(Figura 5.14). Tais figuras mitóticas aberrantes decorrem da formação de mitoses tripolares ou até mesmo multipolares,

resultando em divisão celular inadequada e perda de cromossomos, ao contrário de células normais, cujos cromossomos

migram, adequadamente, para os dois polos celulares.

Figura 5.12 Osteossarcoma canino. Punção para biopsia aspirativa de membro. Nota­se nucléolo de forma alterada e

maior que os eritrócitos adjacentes, além de presença de cromatina grosseira. Objetiva de 100 ×.

Cromatina nuclear grosseira

Cromatina nuclear de aparência grosseira, muitas vezes em forma de “corda”, sugere malignidade. Os núcleos dessas

células caracterizam­se por apresentarem cromatina hipercromática com distribuição desigual (condensada) ou com

margens irregulares relacionadas com a membrana nuclear, sendo também possível a observação de áreas claras

(eucromatina) e escuras (heterocromatina), indicando alta atividade celular.

Figura 5.13 Mesotelioma canino. Efusão peritoneal. Célula mesotelial com núcleo irregular e presença de diversos

nucléolos com tamanhos e formas variáveis. Objetiva de 100 ×.

Figura 5.14 Tumor venéreo transmissível canino. Imprint de genitália. População celular composta de células arredondadas

que apresentam nucléolos proeminentes e citoplasma moderadamente abundante, pontilhado de vacúolos. Observação de

mitose aberrante, com ausência de alinhamento adequado de cromátides. Objetiva de 100 ×.

Deformação nuclear

Consiste em uma figura ao exame citoscópico, cujos núcleos de algumas células deformam núcleos de outras células

adjacentes, ou da mesma célula, se for um caso de multinucleação. Esse critério indica população celular em proliferação

descontrolada e perda da inibição de contato celular.

Critérios citoplasmáticos de malignidade

Alterações citoplasmáticas

O julgamento dessas alterações, na caracterização de uma população celular neoplásica, deve ser cuidadosamente

conduzido, em razão do aparecimento de lesões degenerativas benignas. Dessa forma, a basofilia citoplasmática, por

exemplo, está relacionada com a síntese proteica elevada, e também com a quantidade abundante de RNA. Essas

características são bem frequentes em células neoplásicas, mas também ocorrem em células não neoplásicas, como na

hiperplasia. Já nos casos do mastocitoma, a variabilidade de número, tamanho e distribuição de grânulos

intracitoplasmáticos é um achado muito significativo na interpretação do potencial de malignidade.

Cuidados na avaliação

Um diagnóstico seguro de malignidade pode ser firmado se pelo menos três critérios nucleares forem observados em

quantidade significativa de células de uma preparação citocitoscópica. É de extrema importância que a população a ser

avaliada seja representativa tanto qualitativa quanto quantitativamente. Não é confiável o diagnóstico de preparações mal

coradas, cujos nucléolos aparecem mais evidentes, ou na presença de células degeneradas, já que o rompimento celular

causa o aparecimento de núcleo maior e cromatina mais descondensada, mas visível.

Cuidados também devem ser tomados na avaliação de preparações citoscópicas nas quais haja componente inflamatório

concomitante, pois o processo inflamatório tem a capacidade de provocar displasias celulares que podem ser confundidas

com neoplasia, observando­se com mais frequência em macrófagos endoteliais e fibroblastos.

Categorias citomorfológicas de neoplasias

Uma importante aplicação da citopatologia está na diferenciação entre um processo inflamatório ou reativo e uma neoplasia.

A neoplasia, quando associada à inflamação, é de difícil diagnóstico, e dessa forma a experiência do citopatologista é de

fundamental importância em tais casos. Já uma preparação citológica desprovida de componente inflamatório pode

representar tanto um processo neoplásico quanto um tecido não neoplásico e, ainda, nesse último caso, a possibilidade de

se tratar de uma estrutura normal deve ser levada em consideração.

Quando se avalia uma população de células neoplásicas, o primeiro objetivo do citoscopista é determinar o tipo celular

predominante e enquadrá­lo dentro de uma classificação geral conforme o tamanho das células, sua morfologia, sua

distribuição – células isoladas ou em grupos – e a quantidade de células na amostra, além da diferenciação em tecido

benigno ou maligno. Como referido, as variáveis como anisocitose, pleomorfismo, intensidade de coloração citoplasmática,

relação núcleo­citoplasma, anisocariose, anisonucleoliose e múltiplos nucléolos, entre outras, são suportes para essa

diferenciação.

Assim, a classificação das neoplasias fundamenta­se em suas características citomorfológicas gerais e inclui neoplasias

epiteliais, mesenquimais, de células distintas ou redondas e de núcleos livres, sendo os dois primeiros termos advindos da

embriologia.

Dessa forma, as neoplasias podem ser agrupadas em quatro categorias gerais, de acordo com seu tecido de origem, para

melhor classificação e interpretação citopatológica.

Neoplasias epiteliais

A origem celular de neoplasias epiteliais envolve com frequência tecidos glandulares parenquimatosos ou superfícies de

revestimento. A nomenclatura empregada para a designação de tumores malignos epiteliais é carcinoma, de natureza não

glandular, e adenocarcinoma, para neoplasias glandulares. Exemplos de neoplasias epiteliais incluem adenocarcinoma

pulmonar, adenoma perianal (tumor hepatoide), tumor de células basais, adenoma sebáceo, carcinoma de células

transicionais e mesotelioma (Figura 5.15), entre outros.

Os aspirados de tumores epiteliais geralmente produzem forte celularidade e predomínio de células redondas ou

poligonais que tendem a esfoliar em grupos ou em fileiras. As células têm bordas citoplasmáticas bem definidas e tendem a

aderir­se com firmeza, apresentando um contato extenso entre célu­las adjacentes e zonas lineares claras nas áreas de

adesão celular. Apesar de as bordas celulares serem em geral bem definidas, alguns tipos de células epiteliais neoplásicas

tendem a perder seu citoplasma como um artefato da preparação. Essa perda resulta em aglomerados de núcleos retirados

de seu citoplasma (p. ex., tumores de células basais ou tumores da tireoide). Quando a neoplasia tem origem em um

epitélio glandular, observam­se proeminente vacuolização citoplasmática e formação acinar. Assim, adenocarcinomas

podem formar padrões remanescentes de estruturas acinares ou ductais e apresentam células com citoplasma

profundamente basofílico, vacuolizado ou expandido, sugerindo atividade secretória. Em contraste, células obtidas a partir

de carcinoma de células escamosas são mais individualizadas, contêm citoplasma profundamente basofílico e diferentes

graus de queratinização. Células derivadas de carcinomas do uroendotélio (carcinomas de células transicionais) em geral

são muito pleomórficas e podem esfoliar em grupos ou isoladamente. Em tais células, a basofilia citoplasmática é variável

e a multinucleação e a deformação nuclear podem ser achados comuns. Com frequência, células grandes isoladas com

abundante citoplasma aparecem no interior de aglomerados de células com elevada relação N/C.

Figura 5.15 Mesotelioma canino. Efusão peritoneal. Neoplasia de origem epitelial que se apresenta com predomínio de

células redondas ou poligonais que tendem a esfoliar em grupos de células bem aderidas entre si. Objetiva de 100 ×.

Células de tumores epiteliais glandulares benignos ou adenomas têm aspecto uniforme e podem parecer relativamente

bem diferenciadas. Em contraste, células epiteliais neoplásicas malignas ou carcinomas podem ser marcadamente

pleomórficas.

Na ausência de inflamação, os critérios nucleares de malignidade são indicadores confiáveis para a maioria das

neoplasias epiteliais. Duas exceções (tumores de células basais e de glândulas perianais ou anais) requerem mais cautela

em relação à interpretação de malignidade. As neoplasias tireoidianas também representam um problema na interpretação

dos achados citopatológicos.

Neoplasias mesenquimais

O mesênquima é uma rede de tecido embrionário que forma os diferentes tipos de tecido conjuntivo e vasos corpóreos. Por

isso, tumores mesenquimais representam uma extensa família de neoplasias envolvendo os tecidos conjuntivo,

cartilaginoso, ósseo, muscular liso, muscular estriado e os vasos sanguíneos ou linfáticos, entre outros. As neoplasias

mesenquimais malignas são denominadas sarcomas e podem ter aparência muito pleomórfica.

Os aspirados de neoplasias estromais apresentam menor quantidade de células que as amostras obtidas a partir de

tumores de outras categorias, pois as células neoplásicas mesenquimais geralmente não esfoliam bem quando colhidas por

aspiração ou por impressão. Nesses casos, pode ser necessária a escarificação da lesão para obter uma quantidade

significativa de células para avaliação microscópica.

As células mesenquimais geralmente aparecem isoladamente e têm citoplasma delgado, fusiforme ou estrelado, com

projeções bipolares que se continuam ao núcleo, o que se considera característica morfológica dessa categoria tumoral

(Figura 5.16). Entretanto, alguns tumores esqueléticos ou articulares (p. ex., osteossarcomas, condrossarcomas e sarcomas

de células sinoviais) podem ter células mais arredondadas. Em geral, os núcleos variam de ovais a irregulares e o

citoplasma pode apresentar vários graus de basofilia. Como referido, tais células tendem a distribuir­se de forma isolada,

mas, dependendo da linhagem celular, não é incomum a presença de pequenos grupos celulares reunidos por um material

extracelular eosinofílico amorfo, como nos osteossarcomas, em que o osteoide pode ser visto envolvendo células

neoplásicas, e nos fibrossarcomas, em que os fibroblastos alterados podem estar envoltos por uma massa de colágeno.

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